A terceira hipótese, partindo da singularidade da vida cristã como experiência do mistério, propõe a pedagogia da iniciação como método próprio da catequese cristã e obriga a encarar o tão polêmico tema da linguagem ou da gramática da fé. Konings usa uma feliz expressão quando fala de “‘iniciação atrasada’ para o batizado que deseja assumir conscientemente ou até reiniciar sua vida de fé”.
Se a Igreja escolheu, ao longo destes 2 mil anos, batizar os filhos na fé dos pais e pretende sustentar tal prática neste tempo que se chama pós-modernidade, pelo menos ofereça aos batizados condições de conhecer sua fé, fazendo profunda experiência do Deus vivo no qual eles foram mergulhados pelo batismo.
É o mínimo que se espera da Igreja, uma vez que, pelo sacramento do batismo, o fiel se encontra a ela vinculado por laços sacramentais. E que cada pessoa tenha o direito e a liberdade de fazer essa experiência e rejeitá-la, caso ela não lhe pareça convincente ou conveniente para seu momento de vida.
O caráter iniciático da fé é respeitoso: partindo do núcleo central da fé — o Deus amoroso que se revelou em Jesus Cristo e atua na Igreja por seu Espírito —, a mãe Igreja toma o fiel pela mão e caminha com ele num processo gradativo e contínuo, como fez Jesus com dois de seus discípulos no caminho de Emaús.
Em etapas não lineares, mas concatenadas e complementares, por meio da Escritura, a catequese oferece a seus destinatários a oportunidade de conhecer e experimentar a presença do Ressuscitado. Cumpre, desta forma, um direito sagrado do qual ninguém pode ser subtraído: o de conhecer Jesus e sua palavra transformadora, que compromete até às vísceras aquele que com ela se identifica.
A quarta hipótese sustenta que, em todas as etapas e situações, a catequese cristã comporta um desenvolvimento coerente do mistério cristão. A catequese como acolhida da revelação do Deus uno e trino comporta também o assentimento da inteligência, uma positividade da qual o homem pós-moderno não abdica e uma originalidade e organicidade que a Igreja conserva e transmite.
Já não parece ser possível pensar o ser humano que passou pela experiência da Ilustração sem esse assentimento da inteligência. A pós-modernidade que se nos apresenta não acolhe passivamente a modernidade com sua centralidade da razão, mas não a dispensa.
Assumir a pós-modernidade não significa voltar à pré-modernidade, num modelo de mundo teocêntrico, onde o argumento da autoridade vigorava e os argumentos da razão não tinham vez, relegando o ser humano à periferia desse círculo. Nem sequer sugere uma catequese light, feita só de músicas e meditações, em que o belo, o lúdico e o místico roubam a cena e ocupam o lugar da profecia.
A fé cristã comporta elementos de racionalidade e compromisso. Em nome da pós-modernidade, a teologia não pode ser desdenhada em favor de uma espiritualidade diluída e sem conteúdo, assim como a profecia — o compromisso com o reino de Deus — não deve ceder espaço a uma religião egocêntrica e egolátrica.
A racionalidade da fé continua presente, não de forma linear e escolar, mas de forma mistagógica. A profecia ganha ainda mais vigor que antes, todavia ou ela passa pelo belo, pelo lúdico e pelo místico, ou não falará mais nada ao homem pós-moderno.
c) Perceber os pressupostos teológicos que sustentam o paradigma de uma catequese evangelizadora
Diante dos desafios da sociedade pós-moderna, torna-se imperativo pensar um novo paradigma catequético. Os catequetas têm tendido a elaborar uma catequese evangelizadora, mais centrada na iniciação cristã, ainda que seu destinatário já tenha recebido alguns dos sacramentos da iniciação.