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Receber o Espírito Santo para a Liberdade e a Vida!
Novo Testamento

Receber o Espírito Santo para a Liberdade e a Vida!

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Finalmente, chegamos ao Domingo de Pentecostes! Com ele, concluímos nossa jornada pelo Ciclo Pascal. A presença de Jesus agora se faz  una  com o Pai, por seu Espírito. O prometido, o Paráclito, agora se faz presença perene entre nós, tal como ele nos prometeu. A vinda do Espírito Santo sobre os discípulos é o cumprimento da promessa de Jesus:  “Recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas Jerusalém, toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8). É, portanto, vista da irradiação universal do testemunho de Jesus Cristo que a graça do Espírito nos é dada. Todo discípulo é também missionário.

A missão deve atingir todos os povos, pois a salvação oferecida gratuitamente por Deus é universal, conforme nos anuncia a Primeira Leitura da Liturgia desta Solenidade de Pentecostes. O Espírito Santo que estará com os discípulos do primeiro momento, e conosco – Igreja de nosso tempo – não é estático. Impulsiona à missão. Jesus mesmo é o missionário do Pai e é quem envia os discípulos: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 19,21). Soprando sobre eles, concede-lhes o Dom do Espírito juntamente com o poder de perdoar pecados. O Espírito, então, liberta-nos de tudo o que impede a graça de Deus de atuar nós, conforme podemos ver no Evangelho da Liturgia desta Solenidade de Pentecostes.

É pelo Espírito Santo que reconhecemos a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. É ele quem nos une um só corpo e distribui os dons diversos para a edificação da comunidade. Esta verdade se nos faz anunciar pela Segunda Leitura desta Liturgia. A graça divina nos é concedida abundância. Somos convidados a acolhê-la e fazê-la frutificar. Destarte, a Liturgia da Palavra deste Domingo de Pentecostes nos anima na caminhada enquanto Igreja, nos fortalece e ilumina para bem viver a fé e a vida Cristo, e nos envia missão. É o Espírito que nos unge e nos envia.

A Primeira Leitura (At 2,1-11), nos introduz no contexto de Pentecostes.  “Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar” (At 2.1). O Espírito Santo como Dom de Deus Pentecostes – originalmente, entre os israelitas – era a festa da colheita (cf. Ex 34,22). Era celebrada num clima de muita alegria e de ação de graças. Posteriormente, tornou-se a comemoração do aniversário da promulgação da Lei de Deus no Monte Sinai. Lucas, ao descrever o Pentecostes cristão, reinterpreta essa festa como o momento propício não mais da concessão da Lei, mas da graça do Espírito Santo.

Os símbolos do furacão e do fogo lembram a teofania no Sinai. Em uma casa, Jerusalém, estão reunidos oração os apóstolos,  “algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos”  (At 1,14). O tempo da espera se completou e a promessa de Jesus se cumpre. Os judeus da diáspora correm para Jerusalém,  “vindos de todas as nações que há debaixo do céu” (At 2.5). Estão aí para celebrar a festa, fiéis à sua tradição religiosa. Elas se tornam testemunhas do derramamento do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus. O evento de Pentecostes quer mostrar a continuidade com a história de Israel.

O Deus que se revelou aos antepassados é o mesmo que se revela Jesus Cristo e se dá a conhecer ao mundo inteiro. Lucas enumera ainda a presença de vários povos, do oriente e do ocidente, representantes de todas as nações. A palavra do evangelho deverá alcançar a todos. Em suas próprias línguas ouvirão o anúncio das maravilhas de Deus. Portanto, o Dom do Espírito tem, essencialmente, uma finalidade missionária.

A comunidade de Jerusalém é o ponto de partida para a difusão da fé cristã; é a mãe de todas as comunidades cristãs. Por isso, vai ser caracterizada como a comunidade ideal (cf. At 4,32-35). Com base nesse modelo, círculos sempre mais amplos, a Palavra será disseminada universalmente.

O Espírito Santo é o principal protagonista da evangelização. É quem garante a unidade da fé Jesus Cristo na diversidade de línguas e culturas. Como podemos ver no conjunto do livro de Atos dos Apóstolos, os discípulos, após a experiência transformadora do Espírito, se enchem de ousadia e coragem e se lançam nessa tarefa profética de testemunhar a fé no Salvador, Jesus Cristo. Vários deles até o martírio. É a Semente do Evangelho que cresce iluminada pela Luz do Santo Espírito e irrigada pelo sangue dos santos e santas, de ontem e hoje.

Na Segunda Leitura temos 1Cor 12,3b-7.12-13. Trata-se de uma reflexão sobre diversos serviços, os ministérios na Igreja, e um só Espírito. Paulo, ao escrever à comunidade cristã de Corinto, intenta orientá-la nas questões ainda não bem esclarecidas que estão causando conflitos no meio dela. Uma dessas questões refere-se aos Dons do Espírito Santo. Para isso o apóstolo dedica os capítulos 12 a 14.

O texto da liturgia deste Domingo de Pentecostes enfatiza que a diversidade de dons, ministérios e modos de ação provém da Trindade Santa: do mesmo Espírito, do mesmo Senhor e do mesmo Deus que realiza tudo todos. De Deus provém somente o que é bom para os seus filhos e filhas. A diversidade revela a magnanimidade e a criatividade divinas. A graça de Deus não pode ser acolhida de forma egoísta. Por isso, todo dom ou carisma desdobra-se serviços concretos favor do bem comum.

Não importa o tipo de ministério, pois, sendo graça divina, todos têm a mesma importância. Daí decorre a atitude de serviço humilde e solidário. Cada ação deve estar ligada ao conjunto das demais. O que deve projetar-se não é a figura da pessoa que serve. Isso seria utilizar os dons de Deus, que é Amor, proveito próprio. O que deve brilhar é o projeto comum, que, no caso de uma comunidade cristã, é o mesmo projeto de Jesus. No Espírito reconhecemos que ele é nosso Senhor e com ele formamos um só corpo.

A reflexão de Paulo, na primeira Carta aos Coríntios que contemplamos hoje, se faz oportuna nossos tempos. O que se faz mais oportuno refletir à frente, quando pontuarmos sobre a atualização da Palavra de Deus nossas vidas.

Nesta mesma perspectiva, vale aqui mencionar uma confusão comum nosso tempo sobre os dons do Espírito. Não são raras as vezes que se faz menção à oração línguas (glossolalia, grego: γλώσσα = língua + λαλώ = falar), como o Dom de Línguas de Pentecostes. Conforme percebemos na dinâmica narrativa do Livro de Atos, o Dom de Línguas consistia se anunciar o Evangelho num idioma nunca estudado pelo evangelizador.

A comunidade dos apóstolos de Jesus era formada por pessoas simples, sua maioria iletrada. É de se crer que estes não eram versados idiomas falados fora da região da Galileia, de onde se originava a maior parte do grupo dos discípulos do primeiro momento. O relato de Atos 2,5-12 é muito claro nos informar que as diversas línguas que se ouvia o anúncio do Evangelho após o Pentecostes, eram inteligíveis, ou seja, línguas faladas pelos que ali estavam: “Esses homens que estão falando, não são todos galileus?

Como é que cada um de nós os ouve sua própria língua materna? Entre nós há partos, medos e elamitas; gente da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da região da Líbia vizinha de Cirene; alguns de nós vieram de Roma, outros são judeus ou pagãos convertidos; também há cretenses e árabes. E cada um de nós sua própria língua os ouve anunciar as maravilhas de Deus!” (At 2,7-11). O Dom de Línguas consiste, conforme a revelação bíblica, numa criatividade da Trindade, por seu Santo Espírito, que proporcionou eficácia na evangelização.

Não se trata de um espetáculo de esquisitice! Se alguém fala línguas estranhas que nenhum grupo humano tem como sua língua materna, não se trata de Dom de Línguas. Trata-se de um erro de interpretação bíblica. E nem vale dizer que se trata de língua dos anjos, pois estes – os mensageiros de Deus – ao se manifestar aos homens e mulheres da história bíblica, o fizeram na língua do destinatário da mensagem. Como exemplo podemos verificar a anunciação à Virgem Maria.

Em Lc 1,26-28 o anjo Gabriel se dirigiu à Santíssima Virgem no idioma dela. Não na “língua dos anjos”, como muitos teimam dizer sobre a glossolalia. Em síntese: o Dom de Línguas, biblicamente fundamentado, tem como objetivo o anúncio da Boa Nova de Jesus. É fundamentado na necessidade de unidade na diversidade e na eficácia da missão. Se não está ao serviço da comunhão fraterna e da missão, pode ser muita coisa; menos dom do Espírito Santo.

Por fim, a Liturgia nos proclama o Evangelho de Jo 20,19-23. Trata-se de uma reflexão sobre a paz, como Dom do Ressuscitado. O texto se inicia indicando o dia que Jesus ressuscitado se manifestou aos discípulos. O primeiro dia da semana tem ligação com o primeiro dia da criação. Portanto, a ressurreição de Jesus marca uma nova criação. A situação que se encontram os discípulos, trancados e com medo, será transformada com a presença de Jesus no meio deles.

A alusão à hora do dia (ao anoitecer) guarda relação com o momento que os discípulos enfrentam. Tristeza e dor por testemunhar a morte de Jesus. A noite escura da alma. Em outra oportunidade, estes mesmos discípulos estiveram sob a noite escura do medo. Durante uma forte tempestade, na travessia do mar. Jesus vem ao encontro deles, caminhando sobre as águas, e manifesta seu poder de salvação (cf. Jo 6,16-20). Percebe-se que João retrata a situação que se encontram os cristãos e cristãs ao redor do ano 100.

As comunidades se faziam atemorizadas e escondidas devido à hostilidade e perseguição, tanto da parte do império romano, como de grupos judaicos. Jesus jamais abandona os seus, como havia prometido: “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14,18). Ele se põe no meio deles como o doador da paz. A fé Jesus, presente no meio da comunidade, garante a superação do medo e da insegurança que estagnam. Ele é o centro ao redor do qual se forma a comunidade.

Ele é o fator de união e de garantia da paz. Já havia anunciado seu discurso de despedida, antes de sua morte: “Eu vos disse essas coisas para terdes paz mim. No mundo tereis muitas tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33). Ao mostrar-lhes as mãos e o lado, Jesus lhes revela os sinais de seu amor vitorioso. Nenhuma força será capaz de destruir a vida, pois a morte foi vencida definitivamente. Ao verem o Senhor, os discípulos se enchem de alegria e recobram o ânimo.

A paz, a alegria e a coragem; deverão acompanhar os apóstolos na missão que recebem do Senhor Jesus. Deverão seguir o exemplo do Mestre, que cumpriu fielmente a missão recebida do Pai. A fidelidade à missão, porém, não se deve à boa vontade dos enviados. É devido, sim, à ação do Espírito Santo. O sopro de Jesus sobre os discípulos lembra o sopro de Deus nas narinas do primeiro ser humano, infundindo-lhe a vida.

O Espírito cria uma nova condição: a vida divina nos discípulos lhes garante a capacidade de amar como Jesus amou. É um amor que liberta o mundo de todo o pecado, o qual, para João, representa a ordem social baseada na opressão e na injustiça. O Espírito Santo que age por meio dos seguidores de Jesus oferece todas as condições para o estabelecimento da paz, da justiça e da fraternidade no mundo. O Espírito Santo é sopro de liberdade e vida!

Como proposto acima, faz-se necessária uma atualização da Palavra de Deus nossas vidas. A festa de Pentecostes nos oferece a oportunidade de reconhecer o Dom do Espírito Santo cada pessoa e na comunidade. Quem o acolhe tem todas as condições de vencer a timidez, o medo, a tristeza, o desânimo e a solidão. Em cada um de nós, a partir do batismo, existe essa força do alto que nos enche de autoestima e nos impulsiona a fazer o bem, do mesmo modo como Jesus fez.

O Espírito Santo nos impulsiona a participar ativamente na comunidade, leva-nos ao engajamento serviços diversos e ao compromisso de transformar as realidades de pecado e de morte. Ele nos dá a capacidade de diálogo entre nós, com as diversas Igrejas e as diversas culturas. É para a vida abundância que Deus nos chamou. Nós respondemos afirmativamente, pois acreditamos no mesmo sonho de Jesus.

Ao redor de Jesus ressuscitado se organiza a comunidade cristã. Sua presença é garantia de união, de paz, de alegria e de segurança. Como seus discípulos missionários, vivemos e anunciamos seu amor e seu perdão. A realidade de egoísmo, de opressão e de todas as formas de injustiça será transformada se nos amarmos como Jesus nos amou. Portanto, openho pela promoção da unidade no mesmo projeto de vida digna para todas as pessoas é sinal concreto de adesão a Jesus. Para tanto, devemos ter nossos corações dóceis à riqueza que a Liturgia da Palavra nos proporciona nesta Solenidade de Pentecostes.

Na oportunidade, que tenhamos também nossos ouvidos e corações abertos às exortações de nosso amado Papa Leão XIV, que nos convida a ser uma Igreja que prime pela Unidade, que promova a Paz e que seja instrumento de Misericórdia na vida de todos os sofredores e sofredoras de nosso tempo. E como nos dizia nosso saudoso Papa Francisco, que sejamos uma Igreja Missionária e Samaritana.

 

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