Falar de Deus Pai é falar da vida, da história, da criação. É falar do amor, “amor fontal” do qual tudo provém. Mas implica também falar do ser humano, homem e mulher, pois são criados à sua imagem e semelhança: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança… e os criou homem e mulher” (Gn 1,26-27). Dessa forma, para pensarmos Deus, temos de pensar o ser humano, homem e mulher. E à medida que pensamos o ser humano, colocamo-nos no caminho para conhecer a Deus. Como nos diz santo Agostinho: “Façamos e nossa estão no plural e somente em sentido de relação é compreensível.
Não quer dizer que fariam à imagem e semelhança de deuses: mas que o Pai, o Filho e o Espírito Santo fazem o homem à imagem do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para que assim ele se tornasse imagem de Deus” Deus é Trindade. Portanto, pensar Deus, dentro do mistério da nossa fé, é pensar o Deus-Trindade, uma verdadeira família: “Já se disse, de forma bela e profunda, que Deus em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família, pois que leva em si mesmo a paternidade, filiação e a essência da família, que é o amor. Este amor, na família divina, é o Espírito Santo”
A preparação para o novo milênio, que estamos vivendo em seu terceiro ano, nos convida a compreendermos Deus Pai, mas com o coração de Mãe. Somos convidados a compreender Deus Pai-Mãe, como a fonte da vida e da história. É uma oportunidade ímpar para superarmos uma ideia de Deus centrada em demasia no conceito de autoridade patriarcal e vivenciá-lo a partir das novas experiências de comunhão, participação, misericórdia, vividas no nosso cotidiano. Somos convidados(as) a repensar nossos conceitos a partir de nossas vivências cotidianas e assim colocar Deus Pai-Mãe dentro de nossa vida.
Ivone Gebara nos anima nesse caminho de reconstrução, ao dizer que “o grande desafio que nos é colocado hoje é o de compreendermos existencialmente aquilo que afirmamos ou, em outras palavras, o desafio de exprimirmos de um jeito simples, acessível e nosso, aquelas experiências que são realmente significativas em nossa vida”.
Sabemos que o que conhecemos de Deus, nos vem pela ação de Deus na história e, de modo ainda mais profundo e misterioso, na vida, prática, morte e ressurreição de Jesus, presença definitiva de Deus na história (cf. Jo 1,14; 14,5-9). Deus se revela como ele é na história, através dos acontecimentos e palavras e, sobretudo, em Jesus de Nazaré (cf. Hb 1,14; Cl 1,15). Dessa forma, o melhor caminho para se conhecer a Deus é seguir a dinâmica da história e, dentro dela, fazer o esforço de traduzir essa vivência em termos compreensíveis e acessíveis ao ser humano, para que a nossa vida possa espelhar a comunhão que existe na Trindade.