A campanha em favor da “Ficha Limpa” mobilizou milhões de pessoas, que acreditaram na possibilidade da decência e da ética na vida política. A lei, já sancionada, está em vigor. O País agradece aos cidadãos, que se empenharam para barrar, antes das urnas, pretendentes a mandatos políticos, que não podem ostentar idoneidade moral para governar ou legislar.
Mas, nem todos os políticos foram ou são “fichas sujas”. Muitos desempenham com dignidade e grandeza a sua missão.
Quero lembrar um deles: Tomás Morus, um político inglês. Ele nasceu em Londres, em 1478; estudou Direito em Oxford; casou, teve 4 filhos. Homem de vasta cultura, amigo de notáveis protagonistas do Renascimento europeu, escreveu vários livros sobre a arte de governar e a filosofia politica. Era católico fervoroso.
Em 1504 foi eleito para o Parlamento e o rei Henrique VIII confiou-lhe importantes missões diplomáticas e comerciais. Foi membro do Conselho da Coroa, vice tesoureiro do Reino e, em 1523, presidente da Câmara dos Comuns. Em 1529 foi nomeado chanceler de Sua Majestade.
O soberano inglês, por não ter sido atendido pelo papa em sua pretensão de divórcio, resolveu ser ele mesmo o chefe da Igreja da Inglaterra, separando-a, assim, de Roma. O fiel chanceler começou a sofrer uma dura perseguição. Não aprovando a ingerência do rei na vida da Igreja e não aderindo à sua política discriminatória contra os católicos, Tomás Morus renunciou ao cargo e retirou-se da vida pública, para sofrer, com sua família, o ostracismo e a pobreza. Foi encarcerado, enfim, na Torre de Londres.
Preferiu permanecer fiel à sua consciência: denunciou no tribunal o despotismo do soberano. Condenado à morte por “infidelidade” ao rei, foi decapitado no dia 6 de julho de 1535. Da prisão, escreveu à filha Margarida: “Fica tranquila, minha filha, e não te preocupes com o que possa me acontecer, neste mundo. (…) Até agora, Deus me deu a graça de tudo desprezar, do fundo do coração – riquezas, rendimentos e a própria vida – ao invés de jurar contra a minha consciência”.
Não traiu a consciência por vantagens, poder, riquezas, prestígio, nem passou por cima da verdade e da decência, mesmo para salvar a própria vida. Permaneceu “Ficha Limpa”, sabendo que isso lhe custava a cabeça. Sua grande firmeza de caráter e sua sólida estatura moral não lhe permitiram cair na tentação de usar o poder para sua vantagem e ganhos pessoais. Colocou sua atuação pública ao serviço dos mais pobres e desprotegidos; promoveu a paz social, a educação da juventude e a defesa da família.
Diante das lisonjas e pressões do poder, conservou uma serena jovialidade, inspirada no sensato conhecimento da natureza humana e da futilidade do sucesso. Tomás Morus harmonizou sua vida pública com suas convicções. Um bom político não pode separar-se da verdade, nem dissociar sua ação da moral. A dignidade dos homens públicos é certificada por uma boa consciência. Como explicar, diante do povo, vantagens desonestas, sem afundar ainda mais no charco da mentira?
A vida de Tomás Morus é um belo exemplo de ética na política. É o mesmo anseio, manifestado, ainda hoje, pelos milhões de brasileiros, que apoiaram o projeto de lei de iniciativa popular “Ficha Limpa. Em 1935, o papa Pio XI declarou Tomás Morus “santo”. João Paulo II o escolheu como patrono dos governantes e dos políticos. São Tomás Morus ajude as nossas comunidades cristãs a preparar para o nosso País uma nova geração de políticos, que pautem suas vidas pela competência, dedicação e coerência de vida com a fé que professam.
Pe. Ernesto,
p.ernestoae@gmail.com