Quando Jesus veio ao mundo ninguém o estava esperando. Embora o seu nascimento tivesse sido anunciado durante séculos pelos patriarcas e profetas e esperado ansiosamente por todo um povo e a humanidade inteira, sua vinda ao mundo, porém, passou completamente desapercebida: nem lhe foi registrada a data.
A primeira pregação apostólica, preocupada em anunciar o Reino – a sociedade alternativa, que Cristo veio inaugurar – e, sobretudo, o mistério de sua morte salvífica e de sua Ressurreição, não se interessou dos detalhes históricos de sua vida terrena.
Os cristãos dos primeiros séculos seguiam as determinações do Império Rom ano, conforme as indicações dos Apóstolos: o calendário daquela época contava o tempo a partir da fundação de Roma: marcavam o ano com as iniciais “Ab Urbe Condita” (a partir da fundação da Cidade, Roma).
Muitos, porém, começaram a ficar incomodados por esta data, pois a civilização romana, por tantos aspectos tão benemérita, marcada, como era, pela idolatria e superstição que tolerava a escravidão e a dominação do homem sobre o homem, não podia ser considerada início da civilização humana.
Mateus e Lucas narram os episódios da infância de Jesus com a intenção de transmitir a grande mensagem salvífica: Deus enviou seu Filho para salvar aqueles que não tinham nenhuma esperança de salvação. Para Lucas eram os pastores de rebanhos, considerados pelos judeus observantes “o lixo da humanidade”; para Mateus, ao invés, são os “magos”, vindos do Oriente, considerados impuros e excluídos da salvação, porque pagãos.
Por ter introduzido na história humana valores que dignificam a vida humana, começou a fazer-se estrada a ideia de que o nascimento de Cristo deveria ser considerado o evento central da história humana.
A ideia se fortaleceu quando no quinto século d.C. o Império Romano desmoronou pela corrupção de seus imperadores e a fome do povo. O Papa daquele tempo, São Leão Magno (440-461), se apercebeu da necessidade de elaborar um novo calendário, que tivesse como eixo central a pessoa de Jesus Cristo.
Encarregou, para isso, o monge Dionísio – tinha o apelido de exíguo por ser de baixa estatura – por ser um dos homens mais erudito da época. Brilhante teólogo, grande biblista e um profundo conhecedor da história da Igreja, contava, apenas, com algumas informações genéricas, extraídas do Evangelho.
O Evangelho de Mateus traz um dado, que, porém, não foi considerado por Dionísio: Jesus veio ao mundo “no tempo do Rei Herodes” (2, 1). Pelo historiador romano, Flávio Josefo, contemporâneo de Cristo, sabemos que este rei morreu no ano 4 a. C.. Portanto, Jesus deve ter nascido 7 anos antes do ano fixado por Dionísio.
O novo calendário teve um êxito extraordinário: imediatamente foi aplicado em Roma e em todas as províncias do Império. A história, assim ficou dividida em duas partes: antes de Cristo e depois de Cristo. Jesus Cristo é o eixo do tempo ao redor do qual gira todo acontecimento humano. Devemos viver de tal maneira que, também, no nosso dia-a-dia Ele seja Ele o centro da nossa existência para ela ter um sentido profundo.
Pe. Ernesto Ascione
Missionário Comboniano