20.5 C
Ceilândia
Outros assuntos

A polarização mais triste é a que se dá dentro da Igreja

Polarização, radicalismo ideológico, extremismo de parte a parte. Quem acompanha com atenção o debate público dos últimos anos não ouve falar de outra coisa. Trata-se de um fenômeno brasileiro, mas também internacional – uma marca típica do nosso tempo. Poucos notam, contudo, como a “guerra cultural” já ultrapassou de longe as esferas eleitorais e partidárias e o quanto ela vem penetrando no seio da própria Igreja.

Uma das raras vozes que se levantam e põem o dedo na ferida é a do Frei Raniero Cantalamessa. “A fraternidade católica está dilacerada!”, afirmou o pregador da Casa Pontifícia em 2021, no seu costumeiro sermão da Sexta-feira Santa. “Qual é a causa mais comum das divisões entre os católicos? Não é o dogma, não são os sacramentos e os ministérios. É a opção política, quando ela se sobrepõe à opção religiosa e eclesial e desposa uma ideologia, esquecendo completamente o sentido e o dever da obediência na Igreja. É este, em certas partes do mundo, o verdadeiro fator de divisão, ainda que tácito.”

No caso de nosso país, especificamente, o que percebemos, entre aqueles que se declaram cristãos católicos, é uma polarização forte entre dois grupos. De um lado, a direita conservadora, muito inspirada, para não dizer moldada, pela direita dos Estados Unidos, assume de maneira bastante feroz as chamadas pautas cristãs de valores, ou de costumes, como a oposição à legalização do aborto, a defesa da família natural e crítica às teorias de gênero. Muito contaminados, porém, pelo liberalismo econômico, os conservadores tendem a ignorar fortemente toda a chamada questão social, como o combate à pobreza, a redução das desigualdades e a preservação do meio ambiente.

De outro lado, a esquerda progressista, que é intimamente ligada aos chamados movimentos identitários ou de minorias, enfatiza claramente a importância da questão social e da presença do Estado na economia, bem como denuncia, as contradições que há entre os valores da fé cristã e a sociedade de consumo que temos hoje. Infelizmente, porém, quando se trata de questões morais de primeira ordem, como a defesa integral da vida e da família, não poucas vezes os cristãos de esquerda traem ou relativizam os ensinamentos da Igreja a respeito desse tema.

No fim das contas, o que falta a ambos os lados dessa triste disputa ideológica é uma verdadeira e completa fidelidade a Nosso Senhor. Via de regra, tanto conservadores quanto progressistas fazem uma apropriação parcial da Doutrina Social da Igreja (DSI), retirando dela apenas o que lhes convém. Nós, porém, precisamos trilhar outro caminho. O que é necessário é defender a DSI por inteiro – tanto nas questões de valores quanto nas questões materiais, tanto naquilo que diz respeito a princípios éticos quanto naquilo que diz respeito às oportunidades socioeconômicas.

Como ensinou o Papa Francisco em Gaudete et exsultate: “A defesa do inocente nascituro deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte”.

source

Postagens relacionadas

Maduros na fé

Lua

São Pedro, 1º PAPA da Igreja

Lua

O paraíso é o abraço com Deus

Lua

Deixe um comentário

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você esteja de acordo com isso, mas você pode optar por não participar, se desejar. Aceitar Leia mais

Politica de privacidade & Cookies
×