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A força histórica dos pobres: profecia ou demagogia?
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A força histórica dos pobres: profecia ou demagogia?

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Quem pretende, em dimensão teológica, transformar a realidade histórica, deve operar a passagem da ordem fatual para a ordem significativa. A força histórica dos pobres, teologicamente, só poderá ser compreendida como um testemunho da presença salvadora de Deus nas lutas libertadoras do homem.

1. A força dos fracos: perspectiva de uma dinâmica de transformação

a) A dinâmica normal da sociedade
Parece natural a consciência de que um autêntico processo de transformação seja viável somente dentro de uma certa ordem: um equilíbrio entre o objetivo desejado e as forças históricas disponíveis. Os efeitos sempre deveriam ser proporcionais às causas. Nenhum agente poderia ultrapassar o limite de suas possibilidades. O não respeito a este princípio elementar leva fatalmente à insensatez. Estaria dando provas de falta de bom-senso quem, dispondo de um exército de dez mil homens, pretendesse, sem cálculos de possibilidade, enfrentar um exército de vinte mil (cf. Lc 14,31-32). Trata-se de uma sabedoria de sobrevivência.

Em muitos casos, nossa força depende da fraqueza do adversário. É em razão disso que há, nas relações pessoais e no entrechoque das forças sociais, uma alternância entre covardia e vigor. Não se fala aqui da coragem, pois essa não depende do equilíbrio de forças. É, antes, uma atitude que imuniza as pessoas frente às oscilações das forças em jogo. O homem de coragem é aquele que descobriu o sentido da história, ou o tesouro no campo (cf. Mt 13,44) e leva esta descoberta até as últimas consequências.

De qualquer forma, nem mesmo a coragem pode dispensar a sabedoria, sem a qual ela acaba desembocando na insensatez. Mas a dissuasão pela força nunca poderá ser a marca da verdadeira coragem. É próprio do espírito de adolescência adotar esta dinâmica. Trágica é a constatação de que as relações internacionais estejam marcadas por este espírito, ficando a humanidade exposta aos caprichos da imaturidade.

Quem deseja assumir a história com todos os seus desafios e interpelações, assegurando-lhe fidelidade incondicional, não tem como fugir ao compromisso transformador. Há uma dimensão de interesse que é irrenunciável: é o desejo de que as iniciativas empreendidas cheguem a bom termo. Para tanto será preciso somar forças, elaborar estratégias, estabelecer alianças táticas, pois o máximo desejável só pode ser o historicamente possível. O fracasso e o desespero são a consequência inevitável quando se prefixa um objetivo inatingível. É aqui justamente que se coloca o problema do equilíbrio entre os efeitos desejados e as forças a serem desencadeadas.

Ocorre, de certa forma, um processo de seleção. Na realização dos objetivos, algumas pessoas serão consideradas importantes (o mesmo ocorrendo com grupos constituídos), ao passo que outras serão colocadas à margem porque julgadas insignificantes. Poder-se-ia dizer que o funcionamento da sociedade está marcado essencialmente por esta dinâmica. As sociedades organizadas constituem sempre formas de aristocracia: os melhores (isto é, os mais fortes) acabam sempre prevalecendo. A criação de centros de poder tem como consequência o surgimento de áreas periféricas (isto é, marginalizadas).

b) A dinâmica do evangelho
Embora não constitua um caminho paralelo, à margem da história, mas um ápice de significação, o evangelho se faz anúncio de uma outra dinâmica, que chega mesmo a constituir-se em instância crítica frente aquilo que habitualmente consideramos como normal e inelutável. Além de atribuir à cruz (o reverso da positividade) uma força de redenção, ele anuncia a bem-aventurança dos pobres, dos mansos, dos aflitos, dos que são perseguidos por causa da justiça (cf. Mt 5,3-10). Fiel a esta perspectiva, Paulo não hesita em anunciar Cristo crucificado, loucura para os pagãos e escândalo para os judeus (1Cor 1,23s), como presença pessoal e salvadora de Deus na história dos homens.

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