Nos últimos anos, tem-se observado um fenômeno preocupante na formação teológica, especialmente no contexto da Igreja Católica. Cresce a percepção de que alguns dos novos sacerdotes, formados em certas instituições e seminários, carecem de uma compreensão profunda e autêntica do evangelho, substituindo o verdadeiro espírito de serviço por uma busca por poder, prestígio e status.
É difícil ignorar que, em muitos aspectos, a Teologia tem sido utilizada como instrumento de dominação, alinhando-se perigosamente com elementos da chamada “Teologia da Prosperidade” e “Teologia da Dominação”. Essa distorção teológica se caracteriza por uma ênfase exagerada em conceitos morais punitivos e na criação de uma dependência psicológica dos fiéis em relação à hierarquia eclesiástica. Observa-se um claro desvio da “Teologia do Servo”, que se fundamenta no amor e na caridade, em favor de uma “Psicologia do Príncipe”, criticada pelo Papa Francisco, que vê o ministério sacerdotal como uma forma de realeza e não de serviço. Vale destacar que o espírito do Evangelho aplica a hermenêutica da prosperidade como um meio para servir aos pobres e marginalizados, não como um fim em si mesmo.
A verdadeira Teologia, fundamentada na Bíblia, especialmente nos ensinamentos de Cristo, nos chama a uma vida de serviço, de reconhecimento de Cristo nos pobres e marginalizados, e de uma rejeição da busca pelo poder. A Bíblia, com sua dualidade entre o Antigo e o Novo Testamento, nos oferece uma narrativa completa que culmina na revelação plena de Deus em Jesus Cristo. O Antigo Testamento nos prepara para entender a unicidade de Deus, enquanto o Novo Testamento nos convida a uma vida de serviço e amor, conforme exemplificado por Cristo.
Infelizmente, a Teologia Moral, como muitas vezes é ensinada hoje, pode se desconectar desta plenitude, se concentrando mais em regras e em condenações do que na mensagem central do evangelho: o amor a Deus e ao próximo. Há um risco real de que, ao enfatizar demais a condenação e a moralidade rígida, sem o contexto redentor e libertador do Novo Testamento, a Teologia se torne um instrumento de opressão em vez de libertação.
Portanto, é crucial que retornemos à essência da fé cristã, que é a caridade, o serviço, e a verdadeira humildade. Precisamos reavaliar as direções que a formação teológica tem tomado, e assegurar que ela forme servos, e não príncipes. A teologia deve ser um caminho de libertação, não de dominação.
O desafio que enfrentamos é claro: retornar à simplicidade e profundidade do evangelho, e rejeitar as distorções que têm surgido nas últimas décadas. Só assim poderemos formar sacerdotes que realmente encarnem a mensagem de Cristo, como servos que caminham com o povo, e não como príncipes que os dominam.
Por Eclesialidade: Blog das Comunidades