Hoje, dia 24 de agosto, dia de S. Bartolomeu (Natanael), me vejo interpelado por uma multidão de pensamentos e sentimentos. É o dia que costumamos celebrar o aniversário de minha avó materna que partiu há 10 meses e estaria fazendo 96 anos.
É segunda-feira e estou organizando meus estudos e ações da semana e me deparo com a mesma busca de sentido que assola nesses mais de 5 meses de pandemia. Aí me vem o pedido para falar sobre o “ser catequista” e me dou conta do tempo passando.
No domingo, 29 celebraremos a vocação da/o catequista e volto no tempo. Estamos numa quarentena e na Festa da Natividade deste ano irei completar 40 anos de minha vocação como catequista. Meu Deus! O tempo me faz refletir!
Ser catequista é pertencer a uma vocação que foi lapidada no coração de Deus. De acordo com o Papa Francisco, ser catequista não é uma profissão, mas uma vocação. Ser catequista é uma vocação com raiz inserida na vocação cristã. No Batismo e na Crisma recebemos o compromisso de colaborar no anúncio da Palavra de Deus, segundo as nossas condições.
Nós o recebemos como um chamado de Deus para transmitir o que o Senhor anunciou, o seu primeiro anúncio ou querigma, o dom que mudou a nossa vida.
Por isso, somos chamados e enviados a levar o anúncio às pessoas para que ele também possa transformar suas vidas. Nossa missão é conduzir a um encontro profundo com Jesus e cada catequizando e pessoa com quem convivamos deve ser convidado a caminhar com Jesus e seus apóstolos, sentindo-se parte de sua história.
Ser catequista é se sentir amado e chamado por Deus para o anúncio da sua Palavra, para ser testemunha dos valores do seu Reino e para sermos os porta-vozes da sua mensagem.
O ser catequista deve ser um caminhar constante, um itinerário feito a partir de Cristo e com Cristo, deixando que Ele se torne o centro de nossa vida, que nos convida a sair de nós mesmos e fazermo-nos próximos dos outros. Parece um caminho difícil. Precisamos de decisão, coragem e atitude como os primeiros discípulos (cf. Jo 1,35-51) e ousadia para entrar no barco da vida e buscar o extraordinário na rotina do nosso cotidiano.
Muitas vezes, no ritmo intenso vivemos, com as exigências que nos cercam, acabamos não percebendo realidades que nos interpelam e provocam para um sentido mais amplo da vida.
Ser catequista é abastecer-se nas fontes do mistério cristão, crendo, seguido e continuando a obra dEle. É participar da vida de fé em comunidade. É a experiência fantástica de formar os corações e as mentes para a autêntica vivência cristã da santidade. Não existe alegria maior do que comunicar a alegria e o amor que um dia nós encontramos.
É ser também consciente que “carregamos um tesouro precioso em vasos de argila” (cf. 2Cor 4,7), por isso, nosso testemunho cristão é fundamental para a conversão do coração dos nossos irmãos. Temos que ser coerentes e crentes daquilo que transmitimos.
A vocação de ser catequista não é processo acabado. Sempre devemos nos perguntar: Quem sou? O que nos faz realmente felizes? Como estou para Deus? São perguntas da nossa existência e das nossas razões que norteiam nossas escolhas, atualizam e refontizam a consciência do chamado e a certeza da missão. E cada experiência da vida deve nos levar em direção a Deus e seu mistério de salvação. Continuemos nossa jornada alimentados pela fé e pela esperança.
Ser catequista é se aproximar, escutar, estar junto, participar, sofrer e se alegrar com alguém, seja a criança, o jovem, o adulto, o velho, o enfermo, o menor carente, ou uma pessoa que necessita de nossa atenção. É sempre preciso caminhar e se deixar encontrar com Jesus Cristo. No encontro pessoal faremos a experiência do convício com quem pode ajudar a conhecer-nos com mais verdade, despertando o melhor de nós.
No dia a dia, se deve deixar a vocação aflora e transfigurar no gosto pela catequese, na criatividade dos encontros catequéticos; na esperança de melhorar a nossa sociedade; na motivação para uma formação continuada e na consciência de nosso envio em nome da Igreja.
O Papa Francisco no seu discurso aos catequistas em 2013, expressou gratidão aos que investem a vida ouvindo e praticando a palavra de Deus, mas também convidava a viver o seguimento imitativo de Cristo, indo ao encontro do outro, saindo, abrindo portas e ousando audaciosamente a trilhar novos caminhos para anunciar o Evangelho. Por isso não sei se sou teólogo catequista ou catequista teólogo!
Que Deus conserve no meu coração e no de todos os catequistas o ardor pelo anúncio do Evangelho de Jesus Cristo e da vida nova que Ele nos veio trazer. O catequista, ao ser chamado a fazer ecoar a Palavra de Deus, vai junto com Cristo e se doa pelo testemunho sustentado pela certeza do amor do Cristo.
A catequese deve ser um espaço privilegiado para encontrar corações sedentos e conduzi-los à verdadeira fonte de vida e felicidade. Seja essa a alegria, a realização, a motivação maior de todo catequista: o encontro com Cristo que transforma e que traz sentido a todo coração humano.
Feliz Dia das/os Catequistas!
Irineu Castro da Silva Filho – membro da Animação da Catequese da Arquidiocese de Manaus e da equipe de formação do Conselho Arquidiocesano de Leigos/as