“Eu gostaria de sinalizar que eu me surpreendi, não é tão comum, com a quantidade de crismando pedindo, querendo a comunhão na boca. Ministro da Eucaristia comungando na boca. Isso não faz sentido”, disse o arcebispo de Cascavel (PR), dom José Mário Scalon Angonese, na missa de crisma que celebrou na Paróquia Nossa Senhora Consolata, em Cafelândia (PR), no domingo (3).
“A gente respeita os processos, a Igreja deixa livre, mas comunhão na boca é lá da Idade Média, do milênio passado”, continuou o arcebispo. “Gente adulta come com as próprias mãos, então, eu ficaria muito decepcionado se tem catequista fazendo catequese de comunhão na boca. Isso é um contrassenso. É contra tudo o que a Igreja tem procurado pregar”.
“A gente respeita, eu não nego comunhão para ninguém, mas confesso que quando vem uma catequista, uma ministra da Eucaristia comungar na boca e com as mãos para trás eu fico decepcionado”, disse ele.
Para o arcebispo, “a Igreja deixou livre, a comunhão na boca ou na mão, em vista dos velhinhos que por uma vida inteira comungaram na boca”, mas jovens que comungam na boca estão fora do tempo, “é uma questão de maturidade da fé, é uma questão de visão de Igreja e visão de mundo”.
Ele terminou pedindo que os fiéis não interpretem isso como um “puxão de orelha”, mas como “acender uma luz para aquilo que realmente importa”.
“O nosso desejo sincero é apontar um caminho seguro para o céu. Quando a gente começa a olhar muito por esses artifícios externos a gente corre o risco de perder o foco do essencial que é o treinamento para o mandamento do amor”, concluiu.
O vídeo com o trecho da fala de dom José Mario foi publicado por alguns perfis nas redes sociais que criticaram a sua fala como contrária aos ensinamentos atuais da Igreja que permitem tanto a comunhão na boca como a comunhão na mão. Nos comentários das publicações, muitos fiéis pedem que o arcebispo se retrate.
A ACI Digital consultou a arquidiocese de Cascavel (PR), que disse que até o momento dom José Mario não vai se pronunciar. A Paróquia Nossa Senhora Consolata excluiu do Facebook o vídeo da live da missa e todos os comentários.
Os padres da arquidiocese citam o decreto conciliar Christus Dominus, “sobre o múnus episcopal”, que “propugna que os bispos, legítimos sucessores dos Apóstolos, devem explicar a doutrina cristã com métodos apropriados às necessidades dos tempos, esforçando-se por se utilizar dos vários meios dos quais dispomos atualmente”.
“O teor do pronunciamento de dom José Mário expressa lidimamente seu modo catequético e familiar de comunicação”, dizem os padres. Para eles, “em momento algum houve desacato ou impiedade para com o Santíssimo Sacramento do Altar”.
Os sacerdotes destacam também que a nota de apoio ao arcebispo “não pretende ser uma argumentação teológica, nem tampouco apologia de um discurso”, mas tem o objetivo de “apregoar a beleza da experiência eclesial vivida na arquidiocese de Cascavel”.
O que a Igreja ensina sobre a recepção da Comunhão?
A comunhão na mão era a prática comum na Igreja até o século IX, mas para evitar abusos e profanações, a partir daí a comunhão começou a ser ministrada na boca.
Com o Concílio Vaticano II a prática da comunhão nas mãos foi restaurada, mas sob certas condições.
A instrução Redemptionis Sacramentum, sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia, publicada pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, hoje dicastério, em 2004 diz:
90. «Os fiéis comunguem de joelhos ou de pé, de acordo com o que estabelece a Conferência de Bispos», com a confirmação da Sé apostólica. «: justify;”>91. Na distribuição da sagrada Comunhão se deve recordar que «os ministros sagrados não podem negar os sacramentos a quem os pedem de modo oportuno, e estejam bem dispostos e que não lhes seja proibido o direito de receber». Por conseguinte, qualquer batizado católico, a quem o direito não o proíba, deve ser admitido à sagrada Comunhão. Assim pois, não é lícito negar a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a Eucaristia ajoelhado ou de pé.
92. Todo fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada Comunhão na boca ou se, o que vai comungar, quer receber na mão o Sacramento. Nos lugares aonde Conferência de Bispos o haja permitido, com a confirmação da Sé apostólica, deve-se lhe administrar a sagrada hóstia. Sem dúvida, ponha-se especial cuidado em que o comungante consuma imediatamente a hóstia, na frente do ministro, e ninguém se desloque (retorne) tendo na mão as espécies eucarísticas. Se existe perigo de profanação, não se distribua aos fiéis a Comunhão na mão.
A instrução geral do Missal Romano atual diz no número 161:
“Se a Comunhão for distribuída unicamente sob a espécie do pão, o sacerdote levanta um pouco a hóstia e, mostrando-a a cada um dos comungantes, diz: O Corpo de Cristo ou Corpus Christi. O comungante responde: Amem, e recebe o Sacramento na boca, ou, onde for permitido, na mão, conforme preferir. O comungante recebe a hóstia e comunga-a imediatamente e na íntegra”.
O Diretório Litúrgico publicado pela CNBB diz o seguinte sobre a comunhão recebida na mão:
13.7 – Comunhão na mão: No dia 03 de abril de 1995, a Congregação do Culto Divino enviou notificação sobre a Comunhão na mão (Prot. n. 720/85):
1) Comunhão na mão deve se manifestar, tanto como com a comunhão na boca, o respeito pela presença real de Cristo na Eucaristia.
2) De acordo com os ensinamentos dos Santos Padres, insista-se no “Amém” que o fiel pronuncia como resposta à fórmula do ministro: “O Corpo de Cristo”. O amém deve ser uma afirmação de fé.
3) O fiel que receber a comunhão leva-a à boca, ficando com a rosto voltado para o altar, antes de regressar ao seu lugar.
4) É da Igreja que o fiel recebe a Eucaristia, por isso deverá recebê-la sempre do ministro que distribui a comunhão e não se servir a si mesmo.
5) Recomenda-se a todos, em particular às crianças, a limpeza das mãos, como sinal de respeito para com a Eucaristia.
6) Recomenda-se vigiar para que pequenos fragmentos do pão eucarística não se percam.
7) Jamais se obrigará algum fiel a adotar a prática da comunhão na mão. Deixar-se-á a liberdade de receber a comunhão na mão ou na boca, em pé ou de joelhos.