Introdução: Diante da realidade mencionada na introdução deste artigo, como nos sentimos e nos posicionamos? Somos cristãos que confessamos: Jesus Cristo, Palavra de Deus feita carne humana, é o caminho e a manifestação do amor de Deus (cf. 1Jo 4,2). Ele assumiu o projeto da justiça e do amor até a entrega da própria vida. As pessoas cristãs são chamadas a vivenciar o amor de Deus e dar continuidade à missão do Jesus da história, rejeitando todas as realidades de injustiça que desfiguram a vida humana.
Tanto no século I como hoje, as realidades de injustiça continuam eliminando pessoas. No contexto de morte vivido na grande cidade de Éfeso, no fim do século I, o autor da primeira carta de João escreve: “Todo aquele que odeia seu irmão é homicida” (1Jo 3,15). É um grito em defesa da vida humana. O amor ao próximo é o primeiro e o último passo para respeitar e recuperar a vida de todos os seres humanos.
Cada pessoa é digna somente pelo fato de existir, pois é uma forma única e irrepetível, é expressão do infinito amor de Deus: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,8). Lemos as mensagens da primeira carta de João e refletimos sobre elas para alimentar e fortalecer nossa humanidade na fé no Sagrado encarnado em nosso meio.
1. O patronato, a associação e a comunidade crista
A população de Éfeso era constituída por dois terços de escravos/as, que trabalhavam, por exemplo, como estivadores do porto que movimentava a economia da cidade. Eram trabalhadores braçais sem direito à cidadania que sofriam muito com a exploração, a violência e a humilhação. Sofrimento, desespero, revolta dos pobres pairavam na sociedade!
Um dos meios de o Império Romano controlar os habitantes de uma cidade cosmopolita como Éfeso era a rede (sistema) de patronato ou clientelismo, que se caracterizava pela “troca” de favores entre as pessoas e criava verdadeira teia de influência e poder. O patrono rico, ao favorecer o cliente pobre, gerava dependência e submissão, porque a pessoa pobre se sentia grata e devedora de favores ao poderoso.
Na sociedade patronal, a figura máxima era o imperador, denominado pater patriae. Ou seja, ele era considerado o pai e o patrono do império, distribuidor dos bens, defensor da pax romana, sendo até chamado de “Senhor”, kyrios, em grego. A imagem divinizada do senhor imperador era alimentada nas cidades conquistadas por meio de jogos, procissões, imagens, cultos, sacrifícios e dedicação de templos em sua homenagem.
Os funcionários romanos, os notáveis do local e os homens ricos e poderosos disputavam entre si a melhor forma de homenagear o imperador e sua família, em troca de “patrocínios” – benfeitorias. Os favores mais comuns eram a distribuição de cargos e honras, a assistência financeira, o direito de obter cidadania romana e até o de usar o sistema de suprimento de água.