O teólogo e catequeta Denis Villepelet não tem receios de assumir essa realidade da cristandade que se partiu definitivamente. Para ele, reconstituir esse quadro e lutar contra a nova configuração que se impõe é colocar remendo novo em panos puídos.
Não tem mais jeito! Pensando nisso, ele prefigura a pintura de um novo paradigma catequético, com contornos evangelizadores ainda não bem definidos — como tudo que é novo! —, mas com a tinta forte da boa-nova de Jesus e da tradição da fé apostólica. Nesse novo paradigma, a função evangelizadora da catequese é chamada a sair de sua “situação de borralheira e subir na ribalta da reconstrução operante de todos os serviços eclesiais”.
b) Refletir sobre a mudança epocal e a exigência de um novo paradigma catequético
Já é bem conhecido o debate em torno da questão da pós-modernidade. Retomá-lo, porém, na ótica da catequese parece diligência ainda oportuna. Não faltam autores, especialmente teólogos, para nos ajudar a perceber as mudanças da sociedade e suas novas exigências no campo da fé.
Intuições importantes acerca desse novo paradigma começam a surgir. Fala-se em “hipóteses para o novo paradigma catequético”, a saber, uma catequese da proposta e não da herança; uma catequese mais litúrgica; uma catequese da iniciação; e uma catequese que comporte uma apresentação orgânica, mas não linear, do mistério cristão.
A primeira hipótese encontra bases na teologia, pois a fé cristã é resposta pessoal e livre ao apelo de Deus, por meio de Jesus Cristo. Como lembra Konings: “o ser cristão não se transmite por hereditariedade ou cultura. Exige iniciação e opção. Reconhecemos que uma certa ‘cultura cristã’ pode ser transmitida na esteira da cultura geral (infelizmente também em declínio), mas o crer e o ser do cristão não se transmitem desse modo”.
Além das bases teológicas, o respaldo dessa hipótese nasce da observação da realidade, pois, sendo o cenário atual o de um mundo em mudanças, onde todas as culturas se intercomunicam e se misturam, torna-se urgente superar a incerteza e clarificar a especificidade e originalidade da experiência cristã, de maneira que cada pessoa possa fazer sua opção religiosa com liberdade e convicção.
A segunda hipótese parte do princípio de que é atribuição da catequese favorecer uma experiência vivencial da singularidade cristã, que não é algo ensinado, mas absorvido, degustado, experimentado. Assim, a liturgia — lugar do mergulho dos cristãos no mistério pascal — reivindica centralidade no novo paradigma catequético.
Aflora deste modo o caráter celebrativo da fé na catequese: a antiga aula de catequese transfigura-se em encontro com o mistério de Deus em Jesus Cristo pela ação de seu Espírito presente entre nós; e mais: encontro com o mistério da vida humana refletida na presença dos irmãos que partilham conosco essa experiência e de tantos outros que ainda não conhecem essa boa-nova.
O material didático — giz, quadro, professor, carteira, caderno e livro da criança — cede espaço ao material celebrativo — oração, partilha, silêncio, meditação, palavra de Deus. A mistagogia alcança primazia sobre a pedagogia, não a anulando, mas elevando-a à máxima potência; reabilitando o que a fé cristã tem de mais genuíno: seu caráter mistagógico.