• Em todas as etapas e idades, a catequese permite o desenvolvimento orgânico (sistemático, mas não linear) do mistério cristão, ou seja, da Revelação do Deus uno e trino?
• Que pedagogia é mais apropriada para o anúncio dessa boa-nova?
É bom lembrar: se a catequese é pensada como evangelizadora, tem primado a boa-nova, entendida como a ação de Deus em Jesus Cristo por meio de seu Espírito. Então, torna-se necessário pensar uma catequese mais querigmática (e menos doutrinal), mais narrativa (e menos explicativa ou dedutiva) e mais mistagógica (e menos escolar). Eis o primeiro desafio grandioso que o novo paradigma catequético impõe a catequistas e catequetas.
Para continuar a reflexão, sugerimos mais algumas perguntas importantes:
• Como pensar uma catequese querigmática, sem prejudicar a transmissão da fé e da doutrina?
• Como pensar uma catequese mais narrativa e menos explicativa, sem desvalorizar os avanços da modernidade? Quais as bases da catequese narrativa? Fazer catequese narrativa seria o mesmo que contar histórias?
• Como pensar uma catequese mistagógica, ou seja, de iniciação no mistério? Como desescolarizar a catequese e assumir a pedagogia iniciática própria da fé cristã?
A todos os catequistas e catequetas desejamos abertura ao novo e compromisso com as conquistas já feitas: um equilíbrio difícil e fundamental diante dos desafios da pós-modernidade!
Cf. Odilo Pedro Scherer. “Apresentação”, in: CNBB. Diretório Nacional da Catequese. Brasília: CNBB, 2006, p. 7.
Observe-se a mudança do nome das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil (até 1994) para Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (a partir de 1995). Cf. CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. São Paulo: Paulinas, 2003. Documento 71, n. 5. Talvez a mudança de terminologia evidencie a intuição de que a pastoral exige previamente uma nova evangelização, no sentido de embasamento ou implantação da fé.
Cf. o Sínodo da Palavra de Deus, out., 2008.
Andre Fossion. “El nuevo paradigma de la catequesis desde el Instituto Internacional de Catequesis Lumen Vitae. Hacia comunidades catequizadas y catequizadoras”. Sinite, Madri, v. 47, n. 141, 2006, pp. 41-57, p. 42.
Cf. Alberto Antoniazzi. “As religiões no Brasil segundo o Censo de 2000”. Revista de Estudos da Religião, São Paulo, nº 2, 2003, pp. 75-80.
D. Martínez Álvarez; P. González Ibánez; J. L. Saborido Cursach. “Los nuevos caminos de la catequesis. Cinco documentos de la Iglesia para nuestra reflexión”. Catequética, Cantabria, v. 47, n. 3, 2006, pp. 146-167, p. 146.
Cf. J. Konings. Ser cristão: fé e prática. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 14.
Martínez Álvarez; González Ibánez; Saborido Cursach. Los nuevos caminos de la catequesis, p. 151.
Cf. Denis Villepelet. “Deschristianisation et évolution de la catéchèse: entretien”. Lumen Vitae, Bruxelas, n. 4, v. 61, 2006, pp. 369-372, p. 370.
D. Villepelet. “Los desafios planteados a la catequesis francesa”. Sinite, Madri, nº 141, 2006, pp. 87-102, p. 89.
Cf. CNBB. Catequese Renovada: orientações e conteúdo. Documento 26. São Paulo: Paulinas, 1983.
Cf. Villepelet. Deschristianisation…, p. 370.
Villepelet, Los desafios…, p. 88.
Sobre essa nova gramática, Denis Villepelet, interpretado por Alberich, em sua palestra no encontro de Catequetas de Paris, em 2003, afirma: “Torna-se urgente privilegiar o primeiro anúncio da fé, mas devemos reconhecer que deste primeiro anúncio falta-nos ainda a ‘gramática’” (Emílio Alberich.
“Um novo paradigma para a catequese num mundo em mudança: instâncias e perspectivas catequéticas de um recente encontro catequético”. Revista de Catequese. São Paulo, v. 26, nº 101, 2005, pp. 34-41, p. 40).
Clifford Geertz. “La religion, sujet d’avenir”. Le Monde. Paris, 4/5/2006.
CNBB. Evangelização e missão profética da Igreja: novos desafios. Documento 80. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 22.
Irmão Nery. “Introdução”, in: Denis Villepelet. O futuro da catequese. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 14.
Fossion. El nuevo paradigma…, p. 53.
Cf. Emilio Alberich. “Catequesis evangelizadora y pedagogía de iniciación: nuevos impulsos para la catequesis en un reciente documento de los obispos franceses”. Catequética. Cantabria, v. 48, nº 4, 2005, pp. 218-227, p. 218.
Cf. CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil 1991-1994. Documento 45. São Paulo: Paulus, 1991, n. 59.
Cf. Emílio Alberich. “Evangelizar os cristãos?”. Revista de Catequese. São Paulo, nº 3, 1978, pp. 50-63, p. 51.
Cf. Villepelet. O futuro da catequese, pp. 21-27; Konings. Ser cristão…, p. 15.
Alberich. “Evangelizar os cristãos?”, p. 55.
E. Alberich. “Um novo paradigma para a catequese num mundo em mudança”. Revista de Catequese. São Paulo, v. 26, nº 101, 2003, pp. 36-40.
Konings. Ser cristão…, p. 15.
Cf. D. Martínez Álvarez. “Apología de lo iniciático. Opción por una catequesis iniciática”. Catequética. Cantabria, v. 48, nº 6, 2007, pp. 362-375.
Konings. Ser cristão…, p. 13
Cf. Denis Villepelet. “Catequese como iniciação: consequências para a ação catequética”. Revista de Catequese. São Paulo, v. 28, nº 110, 2007, pp. 39-44; Emílio Alberich. “Hacia una ‘presentación orgánica’ y vital del mensaje cristiano en la catequesis”. Catequética. Cantabria, v. 48, nº 5, 2007, pp. 290-299.
A feliz expressão “o belo, o lúdico e o místico” na catequese vem de uma intuição oportuna de Libanio, que, ao falar sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, lembra a necessidade de resgatar “a estética, o lúdico e a religião” como armas contra a violência e a marginalização. Cf. J. B. Libanio. “O estatuto da Criança e do Adolescente”. Jornal de Opinião. Belo Horizonte, jul., 2008.
A 3ª Semana Brasileira de Catequese, que se realizou em novembro de 2009, teve como tema: “Iniciação à vida cristã”. A proposta foi repensar a catequese como processo de iniciação cristã. Ventos novos sopram na catequese brasileira.
Sobre um dos maiores desafios do novo paradigma catequético (seu caráter mistagógico e de iniciação), cf. Villepelet. Catequese como iniciação…, pp. 39-44.
Cf. Gonzalez-Carvajal. Catorze opiniões, p. 196.
V. Pedrosa, in: Emílio Alberich et al. “Mesa redonda”. Catequética. Cantabria, v. 45, nº 3, 2004, pp. 130-154, p. 143.
Alberich. Mesa redonda, p. 143.
Segundo Alberich, “particular preocupação levantam as tomadas de posição de W. Kasper a respeito do primado do conteúdo sobre o método, e a respeito da absoluta prioridade da dogmática sobre a pedagogia religiosa no âmbito da catequese” (Emílio Alberich. “O catecismo em questionamento”. Revista de Catequese. São Paulo, v. 10, nº 40, 1987, p. 43).
França Miranda adverte: “O cristianismo nasceu da experiência salvífica feita pelos primeiros discípulos de Jesus Cristo. Uma experiência que desencadeou a resposta da fé e o seguimento da vida itinerante do Mestre de Nazaré. Uma experiência que os levou a testemunhar em palavras e com a própria vida a força salvífica de Deus por meio de seu Espírito.
A transmissão da fé ao longo da história consiste em testemunhar tal experiência a outras gerações, para que também elas possam sentir e identificar a força de Deus e, assim, experimentar a sua salvação. A autêntica tradição não consiste em palavras, mas, antes de tudo, numa realidade viva, a saber, no transmitir à outra geração o próprio Deus se entregando a nós no Filho e no Espírito, para nos salvar” (REB, Petrópolis, nº 375, pp. 93-94).