A Unção dos Enfermos é um sacramento instituído por Cristo, insinuado como tal no Evangelho de S. Marcos (cf. Mc 6,13), recomendado e promulgado aos fiéis pelo Apóstolo S. Tiago: “Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor.
A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados» (Tg 5,14-15). A Tradição viva da Igreja, refletida nos textos do Magistério eclesiástico, reconheceu neste rito, especialmente destinado a confortar os doentes e a purificá-los do pecado e de suas sequelas, um dos sete sacramentos da Nova Lei.
Sentido cristão da dor, da morte e da preparação para bem morrer
No Ritual da Unção dos Enfermos, o sentido da doença do homem, dos seus sofrimentos e da morte compreendem-se à luz do desígnio salvador de Deus, mais concretamente, à luz do valor salvífico da dor assumida por Cristo, o Verbo Encarnado, no mistério da sua Paixão, Morte e Ressurreição. O Catecismo da Igreja Católica apresenta uma concepção similar:
“Pela sua paixão e morte na cruz, Cristo deu novo sentido ao sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora» (Catecismo, 1505). “Cristo convida os discípulos a seguirem-no, tomando a sua cruz (cf. Mt 10,38). Seguindo-O, eles adquirem uma nova visão da doença e dos doentes» (Catecismo, 1506).
A Sagrada Escritura indica uma estreita relação entre a doença, a morte e o pecado. Mas seria um erro considerar a doença como um castigo pelos pecados pessoais (cf. Jo 9,3). O sentido da dor do inocente só se alcança à luz da fé, crendo firmemente na Bondade e na Sabedoria de Deus, na sua Providência amorosa e contemplando o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, graças à qual foi possível a Redenção do mundo.
Ao mesmo tempo que o Senhor nos ensinou o sentido positivo da dor para realizar a Redenção, quis curar a multidão de doentes, manifestando no seu poder sobre a dor e a doença a sua potestade para perdoar os pecados (cf. Mt 9,2-7). Depois da Ressurreição, envia os Apóstolos: “Em meu nome… hão-de impor as mãos aos doentes, e estes ficarão curados”. (Mc 16, 1 7-18) (cf. Catecismo, 1507).
Para um cristão, a doença e a morte podem e devem ser meios para se santificar e redimir com Cristo. A Unção dos Enfermos ajuda a viver estas realidades dolorosas da vida humana com sentido cristão: «Na Unção dos Enfermos, como agora chamam à Extrema Unção, assistimos a uma amorosa preparação da viagem, que terminará na casa do Pai» [6].
A estrutura do signo sacramental e a celebração do sacramento
Segundo o Ritual da Unção dos Enfermos, a matéria apta do sacramento é o azeite ou, em caso de necessidade, outro óleo vegetal. Este azeite deve ser abençoado pelo bispo ou por um presbítero que tenha essa faculdade.
A Unção administra-se unungindo o doente na frente e nas mãos. Uma fórmula sacramental usada no rito latino para administrar o sacramento da Unção dos Enfermos é a seguinte: “Por meio desta santa Unção e de sua piedosa misericórdia, que o Senhor os ajude pela graça do Espírito Santo”. Amém. Amém”.
(Por esta santa unção e pela sua infinita misericórdia o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade, alivie os teus sofrimentos. Amém).
Como recorda o Catecismo da Igreja Católica, «é muito conveniente que seja celebrada durante a Eucaristia, memorial da Páscoa do Senhor. Se as circunstâncias a tal convidarem, a celebração do sacramento pode ser precedida pelo sacramento da Penitência e seguida pelo da Eucaristia. Enquanto sacramento da Páscoa de Cristo, a Eucaristia deveria ser sempre o último sacramento da peregrinação terrestre, o “viático” da “passagem” para a vida eterna» (Catecismo, 1517).
Ministro da Unção dos Enfermos
O ministro deste sacramento é unicamente o sacerdote (bispo ou presbítero). É dever dos pastores instruir os fiéis sobre os benefícios deste sacramento. Os fiéis (em particular, os familiares e os amigos) devem animar os doentes a chamar o sacerdote para receber a Unção dos Enfermos (cf. Catecismo, 1516).
Convém que os fiéis tenham presente que no nosso tempo tende-se a “isolar” a doença e a morte. Nas clínicas e nos hospitais modernos, os doentes graves morrem frequentemente na solidão, embora se encontrem rodeados de outras pessoas numa “unidade de cuidados intensivos”.
Todos – em particular os cristãos que trabalham em ambientes hospitalares – devem fazer um esforço para que não faltem aos doentes internados os meios que deem consolo e alívio ao corpo e à alma do que sofre. Entre esses meios – além do sacramento da Penitência e do Viático – encontra-se o sacramento da Unção dos Enfermos.
Sujeito da Unção dos Enfermos
O sujeito da Unção dos Enfermos é qualquer pessoa batizada, que tenha alcançado o uso da razão e se encontre em perigo de vida face a uma doença grave, ou por velhice acompanhada de avançada debilidade senil [12]. Aos defuntos não se pode administrar a Unção dos Enfermos.
Para receber os frutos deste sacramento requer-se do sujeito a prévia reconciliação com Deus e com a Igreja, pelo menos com o desejo, inseparavelmente unido à intenção de se confessar, quando for possível, no sacramento da Penitência. Por isso, a Igreja prevê que, antes da Unção, se administre ao doente o sacramento da Penitência e da Reconciliação.
O sujeito deve ter a intenção, pelo menos habitual e implícita, de receber este sacramento. Embora a Unção dos Enfermos se possa administrar a quem já tenha perdido os sentidos, há que procurar que se receba com conhecimento, para que o doente se disponha melhor a receber a graça do sacramento. Não se deve administrar àqueles que permanecem obstinadamente impenitentes em pecado mortal manifesto (cf. CDC, cân. 1007).
Se um doente, que recebeu a Unção dos Enfermos, recupera a saúde pode, no caso de nova doença grave, tornar a receber este sacramento; e, no decurso da mesma doença, o sacramento pode ser reiterado caso a doença se agrave (cf. CDC, cân. 1004, 2).
Por fim, convém ter presente esta indicação da Igreja: «No caso de dúvida sobre se o doente alcançou o uso da razão, se sofre de uma doença grave ou já faleceu, administre-se o sacramento» (CDC, cân. 1005).
Necessidade deste sacramento
A recepção da Unção dos Enfermos não é necessária como necessidade de meio para a salvação, mas não se deve prescindir voluntariamente deste sacramento, se é possível recebê-lo, porque o contrário seria rejeitar um auxílio de grande eficácia para a salvação. Privar um doente desta ajuda poderia constituir um pecado grave.
Efeitos da Unção dos Enfermos
Enquanto verdadeiro e próprio sacramento da Nova Lei, a Unção dos Enfermos transmite ao cristão a graça santificante; além disso, a graça sacramental específica da Unção dos Enfermos tem como efeitos:
– A união mais íntima com Cristo na sua Paixão redentora, para o seu bem e de toda a Igreja (cf. Catecismo, 1521-1522; 1532).
– O consolo, a paz e o ânimo para vencer as dificuldades e os sofrimentos próprios da doença grave ou da fragilidade devida à velhice (cf. Catecismo, 1520; 1532).
– A libertação das relíquias do pecado e o perdão dos pecados veniais, bem como dos mortais no caso do doente ter se arrependido, mas não ter podido receber o sacramento da Penitência (cf Catecismo, 1520).
– O restabelecimento da saúde corporal, se tal for a vontade de Deus (cf. Concílio de Florença: DS 1325; Catecismo, 1520).
– A preparação para passagem para a vida eterna. Neste sentido, afirma o Catecismo da Igreja Católica: «Esta graça é um dom do Espírito Santo, que renova a confiança e a fé em Deus, e dá força contra as tentações do Maligno, especialmente a tentação do desânimo e da angústia da morte (cf. Tg 5, 15)» (Catecismo, 1520).