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Jesus: a misericórdia em movimento | Círculo Bíblico 58
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Jesus: a misericórdia em movimento

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A casa é espaço de acolhida, de anúncio da Palavra e de libertação. Sabendo que Jesus estava em casa, em Cafarnaum, tantos o procuraram, que já não havia lugar à porta (Mc 2,1-12). Quatro pessoas solidárias transportam um paralítico para a casa onde se encontra Jesus a pregar. Fazem-no de modo criativo e persistente. A fé deles, revelada na prática amorosa, é percebida por Jesus, que, surpreendentemente, diz ao paralítico: “Teus pecados estão perdoados”.

O perdão divino é dom gratuito. A reconciliação com Deus resgata a integridade da pessoa, bem como a sua liberdade de pôr-se em movimento, desatrelando-se de um sistema religioso que separava os abençoados “justos” ou “puros” (judeus cumpridores da Lei) dos amaldiçoados “pecadores” ou “impuros” (doentes, estrangeiros, empobrecidos…).

A vida íntegra é condição indispensável para a autêntica realização humana. É necessário, para isso, sanar as rupturas interiores bem como o sentimento de culpa, de inferioridade, de insegurança e de medo da condenação divina. Para isso, Jesus oferece o perdão dos pecados, restabelecendo a unidade interior e a confiança absoluta em Deus, fonte de vida e salvação. Os escribas, teólogos mantenedores daquele sistema excludente, escandalizam-se diante da atitude de Jesus. Em sua lógica, consideram-no blasfemo. No entanto, a lógica de Jesus é outra. Dirige-se ao paralítico, ordenando: “Levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa”.

Jesus, a misericórdia em movimento, atua de modo a reconstruir a humanidade, resgatar a dignidade dos filhos e filhas de Deus e, consequentemente, restabelecer a fraternidade e a justiça. Na casa de Levi, ele senta à mesa com publicanos e pecadores (Mc 2,15-17). Põe-se em comunhão de vida com o povo considerado ignorante e impuro pela teologia oficial. E declara: “Eu não vim chamar justos, mas pecadores”.

O chamamento de Jesus é para o banquete da vida, conforme ensina também por meio de parábolas, como a dos convidados em Lucas 14,15-24 e as três parábolas da misericórdia no capítulo 15. A centralidade da mensagem de Jesus é a revelação de Deus como Pai/Mãe, cuja misericórdia ultrapassa toda medida humana. Em outro momento, Jesus encontra-se à mesa, como convidado de um fariseu chamado Simão, quando aparece “uma mulher da cidade, uma pecadora… Ficando por trás, aos pés de Jesus, ela chorava; e com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés, a enxugá-los com os cabelos, a cobri-los de beijos e a ungi-los com o perfume…” (Lc 7,36-50).

O fariseu fica horrorizado, uma vez que, segundo a sua concepção religiosa, o ambiente fica impuro com a presença de uma mulher tão indigna. Apegado à sua tradição de pureza, não percebe as lágrimas e não capta o sentido dos gestos de amor e de ternura que ela realiza. Desqualifica o profeta Jesus, que parece não saber quem é aquela intrusa e indesejável. “Se uma pessoa não quer incorrer no juízo de Deus, não pode tornar-se juiz do seu irmão. É que os homens, no seu juízo, limitam-se a ler a superfície, enquanto o Pai vê o íntimo” (MV 14).

Para o fariseu, não havia dúvida de que a pecadora deveria ser retirada daquele ambiente. Jesus, que não é moralista nem seguidor de normas que discriminam, deixa-se tocar e amar do jeito que só aquela mulher sabia fazer. Por meio de uma parábola, ajuda o fariseu a entrar também na dinâmica da misericórdia divina, que refaz a inteireza do ser humano e lhe possibilita uma vida radicalmente nova, de paz e salvação.

Vida nova foi o que Jesus possibilitou à filha de Jairo, chefe da sinagoga que, “caindo aos pés de Jesus, rogava-lhe que entrasse em sua casa, porque sua filha única, de doze anos, estava à morte” (Lc 8,40-55). Ela ficou de pé no mesmo instante em que Jesus, “tomando-lhe a mão, chamou-a…”. Entrelaça-se neste episódio a cura de “uma mulher que sofria de um fluxo de sangue, fazia doze anos, e que ninguém pudera curar”.

Tanto a filha de Jairo como esta mulher são figuras do povo de Israel sob o domínio do legalismo que exaure a vida e a liberdade. Desembaraçando-se dos preconceitos religiosos e saltando a lei que a impedia de estar no meio da multidão (cf. Lv 15,19-27), a hemorroíssa aproxima-se de Jesus e toca suas vestes, ficando imediatamente curada. Jesus, sensível a tudo o que lhe acontece ao redor, deseja conhecê-la e abre-lhe a possibilidade de revelar-se perante todos para testemunhar sua cura. Ele a acolhe com especial predileção: “Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz”.

Jesus também suscita uma mudança de vida em Zaqueu ao tomar a iniciativa de entrar em sua casa (Lc 19,1-10). Zaqueu é chefe dos cobradores de impostos, um senhor muito rico, bem conhecido em Jericó. Sua fama não é boa: é um pecador. Como pode Jesus hospedar-se na casa desse tipo de gente? O próprio Zaqueu sentia-se indigno de acolhê-lo. Mas quer “ver” Jesus e, para isso, sobe numa árvore. Jesus “levanta os olhos” e pronuncia o nome de Zaqueu, ordenando que desça imediatamente, pois “hoje eu devo ficar em tua casa”.
O advérbio de tempo “hoje” aparece com frequência no Evangelho de Lucas (cf. 2,11; 3,22; 4,21; 5,26; 19,9; 23,43). “Hoje a salvação entrou nesta casa”, afirmou Jesus após Zaqueu tomar a decisão de mudar de vida. Jesus inaugura o “hoje” da graça da salvação, abre a possibilidade de um novo tempo, do kairós divino na vida de cada pessoa.

“Em certo sábado, entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição” (Lc 14,1-6). Encontrava-se aí um hidrópico. Aos legistas e fariseus que o espiavam, disse: “É lícito curar no sábado?” E diante deles curou o hidrópico e despediu-o. O tempo propício de salvação chegou para todos, também para os ricos, desde que decidam restituir o que roubaram, renunciar ao acúmulo e promover a justiça social; também para os “inchados”, ávidos de glórias e de recompensas, desde que se disponham a ocupar o último lugar e servir os “pobres, estropiados, coxos, cegos” (14,13) sem esperar nada em troca. “Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (19,10).

São muitos os momentos, citados nos Evangelhos, de Jesus nas casas. Revelam certamente uma intenção eclesiológica. Os discípulos (e, várias vezes, a multidão) estão junto a Jesus nas casas, lugar de ensino e de promoção da vida sem exclusão. Assim como faz Jesus, devem fazer também seus seguidores. Ao enviá-los em missão, deu aos seus apóstolos “o poder de expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doença e de enfermidade”, recomendando que entrassem nas casas como portadores da paz (cf. Mt 10,1-12).

Alguns dos que foram libertados por Jesus são também enviados a evangelizar em suas casas: “Vai para casa, para junto dos teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti” (Mc 5,18-20).

Esta teologia da casa reflete certamente a prática da Igreja primitiva. Vários textos o confirmam: “Partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração” (At 2,46); em Jerusalém, na casa de Maria, mãe de João Marcos, reunia-se uma comunidade (At 12,12); também na casa de Lídia (At 16,40), de Priscila e Áquila, em Corinto (At 18,1-3), e de vários outros.

  1. Em todos os lugares
    Jesus e os discípulos percorrem o país e atravessam fronteiras, caminhando e semeando os sinais do Reino de Deus. Todo lugar e todo momento são oportunidades de exercer a misericórdia: por meio de ensinamentos como o sermão da montanha (Mt 5-7) e o da planície (Lc 6,20-49); pelo discurso das parábolas (Mt 13) e o da comunidade (Mt 18); pelas controvérsias a respeito das tradições dos fariseus (Mt 15,1-20); pela orientação aos discípulos, no caminho a Jerusalém, sobre o seu seguimento (Mc 8,27-10,52); e tantos outros momentos demonstrativos do empenho de Jesus em levar a Boa-Nova da vida e salvação a todos.

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