As sinagogas eram espaços que Jesus aproveitou para o seu novo ensinamento. Ele “foi por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios” (Mc 1,39). É numa sinagoga, em dia de sábado, que Jesus cura um homem que possuía uma das mãos atrofiada (Mc 3,1-6). Jesus atua para salvar a vida sem discriminação, mesmo contra os imperativos da ordem estabelecida. Chama para o meio aquele que se encontrava marginalizado. Indigna-se e entristece-se pela dureza do coração dos líderes religiosos e políticos (fariseus e herodianos) que, sob o domínio dos seus próprios interesses, se fecham às necessidades dos outros e buscam manter o povo sob o seu controle.
Jesus volta-se por inteiro às pessoas necessitadas e atua no sentido de libertá-las do jugo do legalismo, como fez com aquela mulher que andava encurvada havia 18 anos (Lc 13,10-17). Estava Jesus a ensinar numa sinagoga num dia de sábado. Vendo a mulher, “chamou-a e lhe disse: ‘Mulher, estás livre da tua doença’. Ele impôs as mãos sobre ela, que imediatamente se endireitou e começou a louvar a Deus”.
Reagindo ao protesto do chefe da sinagoga, Jesus qualifica os responsáveis religiosos de “hipócritas”, uma vez que, na expressão do Evangelho de Mateus, “amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo” (23,4). São guias cegos, pois “filtram o mosquito e engolem o camelo”; deixam de lado o ensinamento mais importante que é “a justiça, a misericórdia e a fidelidade” (23,23-24).
- Nas casas
A misericórdia de Jesus manifesta-se fundamentalmente pela proximidade solidária. É o que caracteriza o seu ministério público. Ele se põe a caminho na direção das “periferias geográficas e existenciais”, aproximando-se das pessoas indefesas e desprotegidas e acolhendo a todas as que o procuram (Mc 1,32). Assim, dirige-se à casa de André e Simão, cuja sogra estava de cama com febre (1,29-31). “Aproximou-se dela, tomou-lhe a mão e a fez levantar-se”.
A febre é sintoma de alguma doença que Jesus logo detecta. A ideologia sinagogal chegava às casas e atingia especialmente o cotidiano das mulheres, que deviam viver no silêncio e na obscuridade, realizando todo tipo de trabalho doméstico e impedidas de serem protagonistas sociais. O encontro com Jesus, que “a toma pela mão”, fez a sogra de Pedro “levantar-se”, verbo relacionado à cura e à ressurreição do corpo.