Os ensinamentos de Jesus são corroborados por sinais concretos de amor aos doentes e marginalizados, como a acolhida e cura dos leprosos (Mc 1,40-45; Lc 17,11-19); do endemoninhado em Gerasa, na Transjordânia (Mc 8,28-34); da mulher hemorroíssa, logo que voltou da viagem (Mc 5,25-34); do paralítico na piscina de Betesda, em Jerusalém (Jo 5,1-18); do cego de Betsaida (Mc 8,22-26) e de Bartimeu na saída de Jericó (Mc 10,46-52); do servo de um centurião ao entrar em Cafarnaum (Mt 8,5-13); da filha de uma mulher siro-fenícia, no território de Tiro (Mc 7,24-30).
Do surdo-gago, na Decápole (Mc 7,31-37); do epilético surdo-mudo, ao descer da montanha onde ocorreu a transfiguração (Mc 9,14-29); da multidão faminta num lugar deserto (Mc 6,30-44); a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17) e de Lázaro em Betânia (Jo 11,1-44); e tantos outros sinais. Mateus sintetiza deste modo a ação misericordiosa de Jesus:
Ele percorria toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo. Sua fama espalhou-se por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos os que eram acometidos por doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curava. Seguiam-no multidões numerosas vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e da Transjordânia (4,23-25).
Conclusão
Em cada contexto específico, Jesus realiza gestos tão humanos quanto eficazes. A cada situação concreta, responde com criatividade transformadora. Os gestos de Jesus são Evangelho – Boa Notícia – para mulheres e homens, para crianças e adultos, para judeus e estrangeiros. Algumas expressões de ternura e de misericórdia transmitem especial força simbólica: Jesus se aproxima, toma pela mão e faz levantar-se (cf. Mc 1,31; 1,41; 2,9-12; 3,3; 5,41-42; 8,23; 9,27; Lc 7,14.); é movido de compaixão (Mc 6,34; 8,2; Mt 20,34); chora a morte do amigo Lázaro (Jo 11,35-38); acolhe e perdoa os pecadores, também a Pedro, que o traiu por três vezes (Mc 2,5; Lc 7,36-50; Jo 21,15-17).
Demonstra afeto com as crianças (Mc 10,13-16), com as mulheres (Mc 14,3-9), com o jovem inquieto (Mc 10,21); encontra-se e dialoga com estrangeiros (Mc 7,24-30; Jo 4), com judeus notáveis (Jo 3; Lc 18,18-23); dedica tempo à formação com seus discípulos (Mc 4,10-34), envia-os em missão (Mc 6,7-12), convida-os a descansar (Mc 6,31), encoraja-os em suas dificuldades (Mc 6,45-52), lava-lhes os pés (Jo 13,1-17), concede-lhes a sua paz (Jo 14,27), reza ao Pai por eles (Jo 17); indigna-se diante do legalismo excludente e da exploração econômico-religiosa (Mc 3,5; Mt 23; Jo 2,13-17); extrapolando a justiça humana, proclama a misericórdia divina para todos, também para os da última hora (Mt 20,1-16)…
Não é estranho que, ao confiar sua missão aos discípulos, Jesus os imagine não como doutores, hierarcas, liturgistas ou teólogos, mas como curadores: ‘Proclamai que o reinado de Deus está próximo: curai os enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expulsai demônios’. A primeira tarefa da Igreja não é celebrar culto, elaborar teologia, pregar moral, mas curar, libertar do mal, tirar do abatimento, sanear a vida, ajudar a viver de maneira saudável. Esta luta pela saúde integral é caminho de salvação e promessa de vida eterna (PAGOLA, 2013, p. 43).