O anúncio do Anjo Gabriel a Maria é uma das páginas mais profundas e sublimes do evangelista Lucas: escritor inigualável e grande conhecedor das Sagradas Escrituras, recorreu a todo o seu talento literário e à sua erudição bíblica para narrar este grande evento salvífico: o Eterno entra no tempo. Aconteceu em Nazaré, terra natal de Maria, ao Norte da Galileia, vilarejo humilde e desconhecido. Filipe anunciou a Natanael ter encontrado “o Messias de Nazaré”. Natanael respondeu: “De Nazaré pode vir algo de bom?”. Neste vilarejo desprezado, Jesus cresceu, se tornou adulto e se preparou para a sua grande missão.
O anjo é “enviado” a uma ”Virgem”: Lucas realça a iniciativa de Deus e o protagonismo de seu Filho e de sua mãe, Maria, na sua obra salvífica. São Paulo diz: “Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher”. Como no início dos tempos, pela desobediência do primeiro homem todos se tornaram inimigos de Deus, assim, pela obediência do segundo homem, o novo Adão, Cristo, todos se tornaram “justos”. E, para reparar a desobediência de Eva, Deus quis unir à obediência do Filho a de Maria: “Para ser a Mãe do Salvador – diz o Concílio Vaticano 2º – Maria foi enriquecida por Deus com os dons, dignos de tamanha função”.
O anjo, ao entrar no aposento onde ela estava, disse: “Kaire” (Alegra-te, pois a ti é reservado por primeiro o anúncio, que todos esperavam), “Kekaritomene” (oh, tu, que foste cumulada de todos os carismas divinos). Saudação messiânica, que os profetas davam à cidade de Jerusalém e às grandes heroínas de Israel – Ester, Judithe, Débora, Jael – que salvaram seu povo de segura destruição. Perante esta saudação, Maria ficou perplexa. O anjo, porém, disse-lhe: “Não temas, Maria, tu foste escolhida” para ser a Mãe do Salvador. Em previsão dos méritos de Cristo, foste preservada por antecipação da mancha original: a desobediência de Eva em ti foi vencida. A proteção celeste estará contigo.
A maternidade divina de Maria é o centro deste evento salvífico. Como ao pairar sobre as águas primordiais, o Espírito de Deus transformou o “caos” em “cosmos” e, no dia de Pentecostes, ao descer sobre os Apóstolos, o Espírito fez deles “arautos da Boa Nova”, assim, descendo sobre Maria, com toda a força de seu amor, o Espírito a tornou “Mãe de Deus”, a nova Eva, a nova Mãe da humanidade e do novo Povo de Deus: “Geradora de Cristo, a Cabeça e regeneradora de seu Corpo, a Igreja” (S Agostinho). “Para Deus – finalizou o anjo – nada é impossível”.
Desde o início, a Comunidade cristã celebrou com grande alegria a Anunciação do Senhor, no dia 25 de março, nove meses antes do Natal. “A humilde serva do Senhor” é “bem-aventurada”, pois aderiu com coração firme à mensagem celeste. Fé e serviço brilham nela: Como um dia serviu a Isabel e Zacarias, assim, hoje, ela está servindo os cristãos, ajudando-os a descobrir a riqueza e a beleza de sua fé, a crescer na caridade e a perseverar no seguimento de Jesus, seu Filho.