Maior evento da história humana, a Ressurreição do Senhor celebra a vitória da Vida sobre a Morte: “Deus constituiu Senhor e Salvador este Jesus, que vocês crucificaram” – proclamou Pedro, no dia de Pentecostes, em Jerusalém. Esta vitória não foi um fato isolado, limitado apenas a Jesus, pois atingiu o “cosmos” e à humanidade inteira.
O grão de trigo, caído na terra, morre, para reviver multidão. “Estarei convosco, todos os dias – prometeu Jesus – até o final dos tempos”. Os primeiros apologistas cristãos já afirmavam: “Cristo, pela sua morte, voltou para a casa do Pai; pela sua ressurreição, regressou para estar sempre conosco a fim de nos contagiar com o dinamismo de sua energia divina!”.
Se Cristo não ressuscitou: vã é a nossa fé; a vida, um “rebus” totalmente incompreensível; o seguimento dele, terrível ilusão; a esperança de um mundo novo, o Reino, utopia irrealizável; a caridade, esmola humilhante; a oração, árido solilóquio; os ritos religiosos, um retrógrado arcaísmo; a Bíblia, um livro incompleto, contraditório e provocatório, que vale menos do que um rolo de papel higiénico; o batismo, simples cerimônia religiosa; a evangelização, propaganda inútil; a Igreja, uma multinacional do sacro; a autoridade, poder opressor; a lei moral, lei de escravos; Deus, um ser distante e indiferente; Cristo, vendedor de ilusões e a morte, um pesadelo.
Se Cristo ressuscitou, então, Ele é o próprio Filho de Deus; o sol de nossa vida, nosso Pastor, Mestre, Luz, Caminho, Verdade e Vida; Senhor e Salvador; novo Adão, Cabeça da Igreja, Esposo dela e da humanidade; Pão vivo e Água viva, que matam nossa sede de Infinito; lêvedo, que faz crescer por dentro o homem, a humanidade e quem acredita nele; a história humana, elevada a itinerário rumo ao Reino definitivo de Deus; a fé, luz que dá à nossa vida o sentido verdadeiro; a caridade, espelho da Trindade; a oração, encontro gozoso com Deus; os sacramentos, sinais de sua presença misteriosa, mas real, no meio de nós e a evangelização, prolongamento de sua missão no mundo.
Celebrar a Ressurreição do Senhor significa, portanto, comprometer-se em defender a vida em todos os níveis, sobretudo, dos pobres e marginalizados; colocar os problemas deles como prioridade nos programas de governos e em nossa vida cotidiana; vencer as forças do egoísmo e da morte, que habitam em nós e no mundo; construir uma nova ordem econômica e política, na busca de soluções para os problemas da Terra, Trabalho, Moradias, Educação, Saúde, Segurança e Previdência Social desde sempre colocadas à margem da vida do povo.
Paul Clodel, escritor francês, em um de seus romances, coloca na boca de uma mulher judia cega, esta interrogação: “Vocês cristãos, que fizeram da alegria pela Ressurreição de Cristo?”. Foi tão poderoso este evento – poderíamos responder – que transformou o viver deles na vigília de uma grande festa; na espera gozosa do encontro com o Senhor da Glória e fez crescer neles a vontade de servir e amar a todos, por primeiro e sempre. Nesta Páscoa, alegremo-nos. Cristo, vencedor do mal e da morte, partilhou conosco sua vitória.