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ColaboradoresPe. Ernesto

Ser padre: Cruz e Alegria

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O sofrimento do padre, no momento atual, está em observar que aquilo que ele faz com amor e sacrifício – anunciar Jesus Cristo, seu Evangelho, seu Reino, sua Igreja, sua salvação, – interessa pouco ou nada a uma cultura e a uma humanidade distraída, atarefada em futilidades, aburguesada, conflitiva e desesperada.

A isso acrescentam-se outros fatores de sofrimento: incompreensões, dificuldades de colaboração com superiores, colegas – padres e colaboradores leigos. Uma inevitável solidão nas horas decisivas, igual à de Moisés, à de Maria (“E o anjo se retirou de junto dela”) e à de Paulo (“Só Lucas está comigo”).

A incapacidade de abarcar todos os desafios pastorais. A impossibilidade de solucionar todos os problemas, de executar todos os planos e levar a cabo todas as iniciativas. E, a suprema cruz é a de não conseguir dar sempre um testemunho transparente, convincente e irradiante de santidade, que os fieis e, até a sociedade inteira, esperam e desejam dele.

No coração do sofrimento a alegria pelo dom de ser padre. Alegria de ir descobrindo que, com a graça do Sacramento da Ordem, ele realiza maravilhas espirituais, que sozinho jamais conseguiria. Alegria de ministrar os sacramentos, especialmente, o de transformar o pão no corpo e o vinho no sangue de Cristo, coisas que não são dadas nem ao mais alto serafim, nem à Santíssima Virgem Maria.

Alegria de poder confortar, consolar, encorajar, orientar na vida inúmeras pessoas. Alegria de colocar alguém no caminho da santidade. Alegria de perceber, no contato com o seu povo, novos apelos à santidade e à vivência de uma vida evangélica e sacerdotal cada vez mais visível, alegre e feliz. Alegria, enfim, de sentir e ver que, por sua alegria, outros, sobretudo jovens, se encaminham para abraçar o Ideal de vida de total consagração a Cristo e à sua Igreja.

Desde menino fui testemunho da vida de muitos padres virtuosos e dedicados. Pude, então, perceber, na vida dos melhores entre eles, a ação conjunta da cruz e do dom recebido, da paixão dolorosa e da mais pura alegria. Esse fenômeno pode ser observado na biografia espiritual de alguns padres brasileiros (natos ou naturalizados). Homenageando-os, vejo neles espelhados muitíssimos outros padres conhecidos ou desconhecidos.

Dores e alegrias na pessoa, vida e obra do frei Antônio de Santana Galvão, franciscano, ituano, no século XVIII. Caracterizou-se pelo exercício sacrificado e escondido da caridade para com os pobres e pelo atendimento pessoal a centenas de pessoas, que a ele recorriam para o sacramento da reconciliação e para conselhos.

Na então pequena cidade de São Paulo, ele fundou o Mosteiro das Concepcionistas, contemplativas, mas também agentes de caridade. Foi homem de oração e de iniciativa. Entre lágrimas e sofrimentos ele irradiava “a perfeita alegria” de seu pai São Francisco.

Cruzes e alegrias, no longo e rico itinerário espiritual de Dom Antônio Ferreira Viçoso, professor no famoso Colégio de Caraça, missionário, bispo de Mariana, de 1845 a 1875. A reforma do clero diocesano e do seminário, a implantação da catequese custaram-lhe renúncias sem conta, vigílias, viagens, incompreensões e vexames. Austero e identificado com Cristo na Paixão e na Crucificação, ele deixou uma imagem luminosa de serenidade, de “gaudium in tribulatione”; enfim, de fecunda paternidade espiritual.

Sofrimento, junto com alegria interior, vemos também, na vida do padre José Antonio Maria Ibiapina. Cearense, advogado, deputado na Corte do Rio de Janeiro, ordenado sacerdote já adulto, ele resgatou o tempo já passado, pregando o Evangelho nos Estados do Nordeste e criando as casas da caridade, como o padre Marcelo no meio de nós.

O nome do padre Ibiapina é bendito até hoje por onde ele passou. Esses rostos fraternos nos indicam do céu a alegria de ser padre

Padre Ernesto,
p.ernestoae@gmail.com
Paróquia São José – S.A.D – GO

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