Nossa identidade está constantemente ameaçada. No Evangelho do Primeiro Domingo da Quaresma, vemos que a identidade de Jesus é ameaçada pelo demônio, pelo tentador. Este deseja comprar Jesus com a promessa de riqueza e de poder. Tudo isso para que Jesus renuncie a sua identidade e a sua missão.
O fato de Jesus manter-se firme diante do demônio e de suas tentações tornou possível o cumprimento de sua missão, ou seja, que fosse nosso Salvador e que desse testemunho do amor que Deus Pai tem, sem exceção, por todos os homens e mulheres.
Nossa identidade é complexa. Somos cristãos, mas também temos uma cultura própria, pertencemos a um povo e temos uma história. Ao irmos assumindo as transformações que são produzidas em nossa própria cultura, corremos o risco de abandonar e desdenhar nosso próprio passado.
Essa é a grande tentação de nossa época. Como tentou ao Senhor, o demônio nos tenta com riquezas e poder, com a sedução de outras tradições que podem nos levar ao desprezo da nossa própria. Que grande erro seria nos esquecermos de nossas raízes, de nossa identidade! Sem as raízes, as árvores morrem. Sem identidade, as pessoas se perdem.
Parte de nossa herança como povo é a fé cristã. Acreditamos que o Deus de Jesus Cristo é nosso Pai, ama-nos e procura nosso bem.
Ao iniciarmos esta Quaresma, convém reafirmar nossa identidade, reencontrarmos nossa herança para que possamos reforçá-la. Não para nos colocarmos contra alguém, mas para podermos compartilhar aquilo que é nosso com todos.
Não há culturas inferiores ou superiores. São simplesmente diferentes. E, no diálogo, todos nos enriquecemos. Mas não há diálogo possível se não valorizamos aquilo que é nosso, se nos envergonhamos de nosso próprio passado.
O demônio tentou roubar a identidade de Jesus. Não o conseguiu. Que seu exemplo nos sirva para que consolidemos ainda mais aquilo que é nosso e, orgulhosos de nossa herança, saibamos compartilhá-la com todos os povos da terra.
É preciso que saibamos viver a nossa fé com alegria e satisfação, como parte de nossa identidade.
Aprendamos com Jesus que resistir às tentações nos torna fortes e capazes de realizar a nossa missão já determinada desde o nosso Batismo.
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.