Jesus não decepcionou as expectativas dos discípulos: além da promessa de sua presença, ativa e real, “até o fim do mundo”, partilhou com eles seu Espírito, sua autoridade, seu magistério, o poder de perdoar pecados e sua missão. Neste mundo tão conturbado, os cristãos são chamados a testemunhar, hoje, o específico da fé cristã: a alegria. “A alegria – diz Gilbert K. Chesterton – é o gigantesco segredo do cristão”. O povo de Israel era um povo alegre pela esperança de um Salvador; João Batista exulta de alegria pela vinda do Messias em sua casa; a Mãe do Messias, Maria, pobre e humilde, prorrompe no canto imortal de alegria, “o Magnificat”, pelo mistério nela cumprido.
“Alegrai-vos e regozijai-vos” – diz Jesus por 9 vezes nas Bem-aventuranças. São Paulo exorta: “Alegrem-se, sempre, no Senhor”, pois Jesus Cristo – a personagem mais sublime da história humana – revela a maior alegria de Deus: o amor fraterno. Sua primeira mensagem foi um convite à alegria: os tempos messiânicos, sonhados pelos patriarcas, anunciados pelos profetas e esperados pelo povo, tinham já chegados. “Cumpriu-se o tempo; o Reinado de Deus já começou. Convertei-vos e acreditai no Evangelho” – foi o anúncio. Nas parábolas, recorre às imagens, que tocam fundo o coração humano, para realçar a alegria do Reino, por Ele inaugurado.
É a alegria de um operário pela recompensa inesperada; por uma colheita surpreendentemente abundante; pelo perdão de uma enorme dívida; por um tesouro, descoberto; por uma pérola preciosa de incalculável valor, encontrada; pela volta ao lar paterno de um filho desavindo; por uma “dracma”, perdida e achada; pelo convite à uma festa de bodas; por uma ovelha tresmalhada, recuperada; pelo grão de mostarda, feito grande árvore; por uma rede, lançada ao mar, que recolhe toda espécie de peixes: sinal de alegria pela salvação universal.
“Voltaram muito alegres – os 72 discípulos, em sua missão experimental – dizendo: Senhor, até os demônios obedeceram a nós por causa de teu nome”. “Não fiquem alegres – respondeu Jesus – pelos maus espíritos, que se submeteram a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” . “Evangelizar – diz Papa Paulo 6º na “Evangelii Nuntiandi” – constitui a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade: ela existe para evangelizar”. A todos os cristãos, Cristo partilha, pelos sacramentos do batismo e crisma, a sua missão profética, sacerdotal e pastoral.
Fundamento da alegria cristã é, sem sobra de dúvida, a pessoa de Jesus Cristo. Ele, alegria do Pai, nos faz filhos adotivos de Deus e herdeiros de seu Reino: “Procura a justiça, procura os méritos, procura os motivos – exclama S. Agostinho – e não encontrará a não ser a graça divina”. Nobreza obriga: amor com amor se paga. Nossa resposta à tamanho amor é a fé, que nos eleva a ser sal da terra, luz do mundo, fermento de uma nova sociedade, justa e solidária, imagem da Trindade Santa, onde Deus é adorado, o homem honrado e o amor, colocado acima e antes de tudo. A irrupção do Reino definitivo haverá, somente, na etapa final da história humana.