Em seu último livro publicado no Brasil, o sociólogo francês Alain Touraine estabelece uma distinção interessante entre o divino e o sagrado. Situa o divino como uma dimensão do sujeito — o indivíduo da modernidade, livre e responsável como cidadão, que tem uma relação cada vez mais direta consigo mesmo. O que o torna sujeito é a interiorização de um princípio doador de sentido. Esse universo de sentido, que Touraine vai chamar de divino, era exterior ao indivíduo, situado numa transcendência separada do mundo humano, da experiência histórica.
Hoje assistimos ao enfraquecimento das instituições religiosas e à afirmação de expressões menos institucionalizadas do sentimento religioso. A fé e a crença num partido, numa Igreja, numa nação etc. deixam o palco, e a pertença à sociedade perde sua força comunitária; o próprio comunitarismo atrai as massas. A sociedade não é mais sacralizada. O sagrado agarra-se, portanto, novamente às comunidades. Permanecem assim face a faceoções de tipo religioso, abertas ao exterior, ocupando-se com símbolos de universalismo, e comunidades sacralizadas, sobretudo quando se definem por raízes naturais: etnia, língua etc.[10]
O resultado “político” não é nada bom. A separação entre o apelo à força “divina” do sujeito e a gestão da economia e das instituições gera um individualismo cada vez maior; o mundo do sagrado se reduz aos instrumentos do poder e daí não tira nem reações afetivas nem força capaz de animar um debate de ideias mobilizador.
4. A religião absorvida