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O Dia de Todos os Santos

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No dia 1º de novembro, a Igreja comemora a Solenidade de Todos os Santos. No Brasil, a celebração é transferida para o domingo seguinte, para que haja maior participação dos fiéis. Nessa ocasião, a Igreja celebrada a memória daqueles que viveram a união com Deus e hoje o contemplam na eternidade. A data também recorda que a santidade é um chamado para todos.

Desde os primeiros séculos, existe o culto aos santos entre os cristãos, a começar pelos mártires, e todos aqueles que testemunham de maneira heroica a fé, esperança e caridade. Em um sermão do século XII, o abade São Bernando questiona os motivos de se louvar os santos e a finalidade dessa solenidade. Ele ressalta que os santos não precisam de homenagens, no entanto, “não há dúvida alguma, se veneramos os santos, o interesse é nosso, não deles”.

A doutrina católica ensina que a santidade é a estreita união do ser humano com Deus. União da qual resulta a perfeição moral. Deus é santo por natureza, as pessoas são santas na medida em que se aproximam do Santo. Em outras palavras, viveram as bem-aventuranças anunciadas por Jesus nos Evangelhos.

“Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”, afirma o Catecismo da Igreja Católica, recordando o que o próprio Jesus diz nos Evangelhos: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5.48).

Os santos não foram pessoas raras e especiais que viveram numa só região do mundo ou apenas em uma época particular da história. A santidade não requer sinais surpreendentes nem consiste em fazer coisas que chamem a atenção. Nada mais é do que “viver de maneira extraordinária a vida ordinária de cada dia”, como observou São João Paulo II, ao beatificar o casal Luigi e Maria Beltrame Quattocchi, em 2001.

Os santos são aqueles que foram canonizados, isto é, reconhecidos, pela Igreja, mas também a multidão de cristãos anônimos que deu testemunho da sua fidelidade a Cristo e hoje está na glória celeste. “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir.

Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante”, afirmou o Papa Francisco, na sua recente Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, sobre o chamado de Deus à santidade no mundo atual.

Essa multidão dos santos é mencionada por São João no livro do Apocalipse, como aqueles “que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão”. (Ap 7,4-14).

Os santos também intercedem junto a Deus pela humanidade. A constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, lembra que: “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus”.

Foram muitos os santos que deram testemunho dessa verdade de fé. São Domingos de Gusmão, na hora de sua morte, dizia a seus frades: “Não choreis! Serei mais útil a vós após a minha morte e vos ajudarei mais eficazmente do que durante a minha vida”. Santa Teresinha do Menino Jesus confirma esse mistério ao afirmar: “Passarei meu céu fazendo bem na terra”. O Catecismo reforça isso ao dizer que “na oração, a Igreja peregrina é associada à dos santos, cuja intercessão solicita”.

A santidade é graça e iniciativa divinas. Ninguém se faz santo por si mesmo, mas coopera com Deus abrindo-se para a sua ação. Os chamados à santidade são pessoas de carne e osso que, inúmeras vezes, ganham e perdem batalhas para permanecerem unidas a Deus. É nesse sentido que os santos são heróis, pois confessaram sua fraqueza diante daquele de quem recebem a fortaleza, como afirmou São Paulo: “É quando me sinto fraco é que sou forte” (2Cor 12,10).

São muitos os defeitos e vícios decorrentes da condição humana que também acometeram os grandes santos. Alguns, por exemplo, lutaram contra seus impulsos de ira, como São Jerônimo, conhecido como um dos santos mais irritadiços do cristianismo. Ele próprio admitia suas intolerâncias e era bastante consciente das suas limitações, o que o levou a uma vida de penitência. A esse respeito, conta-se de um bispo que, ao ver uma pintura do santo batendo no peito com uma pedra, declarou: “fazes bem em golpear-se com essa pedra. Do contrário, a Igreja nunca te teria canonizado”.

Considerado profeta da mansidão e da ternura, São Francisco de Sales também lutou contra as explosões de fúria por quase 20 anos. Tal experiência contribuiu para a redação de sua obra “Introdução à vida devota”. Foi ele quem chegou a afirmar que se atraem mais moscas com uma gota de mel que com um barril de vinagre.

Alguns santos também enfrentaram sofrimentos, crises de fé, inquietações e a chamada “noite escura da alma”, como São João da Cruz, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa de Calcutá, Santa Teresa d’Ávila e Santa Edith Stein.

Em uma homilia de 2016, o Papa Francisco afirmou que “não há nenhum Santo sem passado, tampouco um pecador sem futuro”. Um exemplo disso foi o de Santo Agostinho, que após 30 anos mergulhado em uma vida pecaminosa se converteu. Segundo seus relatos, ele procurava com intensa sinceridade a verdade e o sentido da existência, mas, em suas andanças desordenadas, os prazeres dos sentidos o deixavam mais longe de Deus e de si mesmo. “Eis que estavas dento de mim, mas eu estava fora, e fora te buscava”, dizia em suas Confissões.

Em Gaudete et Exultate, Francisco recomenda: “Quando sentires a tentação de te enredares na tua fragilidade, levanta os olhos para o Crucificado e diz-lhe: ‘Senhor, sou um miserável! Mas Vós podeis realizar o milagre de me tornar um pouco melhor’”. O Santo Padre recordou, ainda, que na Igreja, “santa e formada por pecadores”, o cristão encontrará tudo o que precisa para crescer rumo à santidade. “O Senhor cumulou-a de dons com a Palavra, os Sacramentos, os santuários, a vida das comunidades, o testemunho dos santos e uma beleza multiforme que deriva do amor do Senhor”.

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