A terceira resposta parece encerrar o núcleo central da verdade a respeito do homem. Mas não se pode celebrar ou contemplar no abstrato. Não faz sentido celebrar a justiça e ao mesmo tempo estar comprometido com a injustiça ou então cruzar os braços diante da marginalização. Erro fatal seria o de atribuir à celebração existência própria. A Eucaristia não é a vida, mas a celebração da vida. Uma comunidade cristã amadurecida pode dizer sem temor que a celebração é sua expressão privilegiada, sabendo que sem responsabilidade histórica não faz sentido celebrar.
e) Superar a dinâmica capitalista da eficiência e do lucro
Em sentido positivo, dogmas são as verdades fundamentais que determinam a identidade de uma instituição, de um sistema, de uma comunidade. Seu abandono acarretará uma perda de identidade. Quando pensamos em dogmas, nossa atenção se volta espontaneamente para a Igreja. Mas o capitalismo também os tem: a eficiência e o lucro. Caso pretendesse renunciar a eles, o próprio capitalismo estaria autodestruindo-se.
A dinâmica da eficiência e do lucro não é necessariamente má. Por vezes sua aplicação torna-se essencial para se chegar a uma profunda transformação histórica. Movimentos populares, sindicatos, partidos políticos, mesmo ligando-se às aspirações populares, não têm como fugir a esta dinâmica. É justo e até necessário que eles concentrem sua atenção no cerne das forças efetivas e invistam nos que mais produzem. O mesmo não se pode dizer da Igreja. A adoção da dinâmica da eficiência e do lucro teria como consequência a perda de identidade da própria Igreja.
Em sentido estrito, somente na perspectiva da Graça é possível uma autêntica opção pelos pobres. Estes, com frequência, encontram-se numa tal situação de empobrecimento que nem esperanças suscitam em termos de uma efetiva força histórica. É por eles que a Igreja deve optar preferencialmente. No fundo, trata-se de reconhecer que, para a Igreja, a opção pelos pobres é opção pelos mais carentes e não pelos mais eficientes.
Trágica é a constatação de que o triunfalismo produtivo esteja corroendo a Igreja da Libertação. As CEBs e a Pastoral Operária substituem, com frequência, a dinâmica da gratuidade pela dinâmica da eficiência e do lucro. A título de exemplo pode-se recordar a concentração de forças em sindicatos fortes, como o dos metalúrgicos, e o descaso em referência, a outras categorias tidas como insignificantes: motoristas e cobradores de ônibus. A Pastoral Operária é, não raro, Pastoral Metalúrgica. Fora de uma perspectiva de fé teológica, quem teria coragem de optar pela realidade improdutiva? Os primeiros do Reino não são os primeiros da sociedade. Abandonando a dinâmica do Reino, a Igreja perde sua razão de ser.
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