O Reino de Deus é o centro de convergência de toda a pessoa e de toda a pratica de Jesus. Trata-se de um projeto que interpela o homem a uma radicalidade de vida e que o leva também a vivenciar uma atitude de partilha sem privilégios e sem preconceitos. A partilha dos bens econômicos é o termômetro de todas as outras formas de partilha.
1. Duas tendências agitam o homem: a acumulação e a partilha
A) O homem e seu mundo
Entre o homem e os bens de criação existe uma relação essencial. Não se trata de mera instrumentalidade em vista da realização de algum objetivo. É bem verdade que, no anseio profundo por desvendar o mistério da realidade, a preocupação maior do homem é o desvelamento de seu próprio mistério. De certa forma, pode-se dizer que o conhecimento da realidade constitui uma mediação em vista do autoconhecimento. Não é sem importância que os sábios da Antiga Grécia estabelecessem como prioridade para o homem o conhecimento de si mesmo. Este, efetivamente, é o maior de todos os desafios, aquele que, por mais bem sucedidas que sejam as tentativas, permanece sempre algo insolúvel.
O homem, com efeito, é para si mesmo o maior dos mistérios. Se através de suas investidas o homem conseguisse desvelar seu próprio mistério, estaria destruída sua condição pessoal. A consequência inevitável seria uma despersonalização que o reduziria à condição de objeto disponível. O mesmo pode-se dizer do conhecimento que todo homem tem a respeito dos outros homens. É por isso que a manutenção do mistério torna-se essencial para a própria sobrevivência da liberdade.
A convivência humana, evidentemente, pressupõe não apenas que a pessoa tenha de si um profundo conhecimento, mas ainda que tenha condições de operar um mergulho na alteridade pessoal. Sem isso, seria impossível o estabelecimento de relações construtivas. Mas é preciso observar que as relações humanas são sempre ambíguas justamente porque nem o autoconhecimento nem o conhecimento interpessoal têm condições de chegar às últimas consequências. Há um momento em que o homem para nos umbrais do mistério da pessoa humana.
De todo modo, mesmo constituindo-se em mediação para o autoconhecimento, a relação do homem com as coisas forçosamente ultrapassa os limites da funcionalidade. E isso por um dado elementar de antropologia: os bens da criação integram a realidade do homem. Eles são parte importante de seu mundo. Em termos de antropologia teológica, reveste particular importância, nos relatos do Gênesis, a harmonia existente no conjunto da criação, através de um relacionamento cordial do homem com o mundo todo que o cerca.
Por outro lado, e dentro da mesma perspectiva, é interessante observar como a experiência do pecado opera uma desordem generalizada. A terra torna-se hostil e o homem precisará ganhar o pão com o suor de seu rosto. Pode-se notar como a antropologia bíblica seja muito rica e abrangente. Seguindo essa mesma linha de pensamento, Paulo poderá dizer mais tarde, escrevendo aos romanos, que “a criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus” (Rm 8,19). Toda agressão ecológica, à medida que destrói o mundo do homem, é um atentado à dignidade humana.
B) A dinâmica da acumulação e da partilha