O nascimento se mostra como um momento forte da vida. A criança está aí. É pura gratuidade. Depende da bondade dos outros para ser aceita na família e sobreviver. O Batismo desdobra esta dependência como dependência de Deus e sublima como participação na vida de Cristo.
Outro momento chave da vida é aquele quando a criança, agora crescida e livre, se decide. Amadureceu. Entra na sociedade dos adultos. Ocupa seu lugar no mundo profissional. É uma virada importante de sua vida, onde se joga em parte seu horizonte de vida. O homem sente, novamente, que depende de uma Força superior. Experimenta Deus. O sacramento da confirmação é o sacramento da madureza cristã. Explicita a dimensão de Deus presente neste eixo existencial.
Sem o alimento a vida não se mantém. Cada refeição permite ao homem fazer a gratificante experiência que seu ser está ligado a outros seres. Por isso o comer humano vem cercado de ritos. A eucaristia desdobra o sentido latente do comer como participação da própria vida divina. Outro eixo existencial é constituído pelo matrimônio. O amor vive da mútua gratuidade. Os laços que unem são frágeis, porque dependem da liberdade. Faz-se a experiência que escapa ao homem, a da garantia da fidelidade. Depende e invoca a Força superior, Deus. O sacramento explicita a presença de Deus no amor.
Há uma experiência profunda que todo homem faz, experiência de ruptura culposa com os outros e com Deus. Sente-se dividido e perdido. Anseia pela redenção e pela reconciliação com todas as coisas. O sacramento da volta (penitência) articula a experiência do perdão e o encontro entre o filho pródigo e o Pai bondoso.
Viver num mundo reconciliado e não rompido, poder realizar a reconciliação universal e a paz: eis o secreto desejo que inspira a busca da felicidade. O sacramento da ordem unge pessoas para que vivam a reconciliação e as consagra no serviço comunitário para a reconstrução da reconciliação.
Quando no século XII os teólogos chegaram a determinar o número dos ritos fundamentais da fé, foram movidos pelo inconsciente coletivo da vida e da fé. A Igreja-Sacramento estende sua ação sobre toda a vida. Mas de maneiras diferentes. Ela se faz presente em “momentos-chave” da existência, lá onde a vida experimenta suas raízes mais profundas. Aí ela explicita a presença de Deus que, bondosamente, nos acompanha. São os ritos essenciais da fé, pelos quais se realiza a própria essência da Igreja, como sinal da salvação no mundo. Nos principais nós existenciais da vida, se concretizam os principais sacramentos da fé. A vida está grávida da graça.
O Concílio de Trento definiu: sete são os sacramentos, nem mais nem menos. Devemos bem compreender esta definição. O essencial não é o número sete, mas os ritos contidos nesta enumeração. O número exato dos ritos não é o essencial. O número sete deve ser entendido simbolicamente. Não como soma de 1 + 1 + 1, até sete, mas como resultado de 3 + 4. A psicologia do profundo, mas antes a Bíblia e a Tradição, nos ensinam que os números 3 e 4 somados formam o símbolo específico da totalidade de uma pluralidade ordenada.
O 4 é símbolo do cosmos (os quatro elementos: terra, água, fogo e ar). O 3 é o símbolo do Absoluto (Santíssima Trindade). A soma de ambos, o número 7, significa o encontro entre Deus e o homem. Com o número 7 queremos exprimir o fato de que a totalidade da existência humana em sua dimensão material e espiritual é consagrada pela graça de Deus. A salvação não se restringe a sete canais de comunicação; a totalidade da salvação se comunica à totalidade da vida humana e se manifesta de forma significativamente palpável nos eixos fontais da existência. Nisso reside o sentido fundamental do número sete.
Uma vez mais: O número sete evoca a totalidade. Sete foram os dias da criação e sete são também os dons do Espírito que vivifica e fortalece a Igreja. Com este número se manifesta a intenção de oferecer a graça ou salvação de Deus aos homens “na totalidade de sua existência”. É lógico que também aqui devemos aceitar que a Igreja tem poder para mudar, explicitar e até mesmo criar novas expressões simbólicas, sempre no intuito de prestar um serviço ao homem em sua totalidade.
Lucimara Trevizan