Caridade
A caridade – “sentimento primordial e raiz de todos os sentimentos”, segundo São Tomás – é o primeiro fruto do Espírito Santo. Nela, o Paráclito dá-Se de forma toda particular “como em Sua própria semelhança”, uma vez que, no eterno e inefável convívio entre as três Pessoas da Santíssima Trindade, Ele é o Amor substancial do Pai para com o Filho, e do Filho para com Pai.
Quando uma alma é cumulada pela seiva divina do Espírito de Caridade, o amor a arrebata e transforma por completo. Assim aconteceu com Santa Maria Madalena, a pecadora pública perdoada e restaurada a ponto de encabeçar a lista das virgens invocadas na Ladainha de Todos os Santos.Tocada por um amor corajoso, não hesitou ela em comprar os melhores perfumes e, alheia ao respeito humano, lançar-se aos pés de Jesus, lavá-los com suas lágrimas e enxugá- los com seus cabelos.
Foi uma manifestação de amor veemente, exclusivo e – quase se diria – irrefletido, por não medir esforços nem calcular consequências. Bem podem se aplicar a ela as palavras de São Francisco de Sales: “A medida de amar a Deus consiste em amá- Lo sem medida. Ou as de São Pedro Julião Eymard: “O que é o amor senão o exagero?.Note-se, entretanto, que a caridade nem sempre vem acompanhada de consolações para a alma que a pratica, pois, sendo uma virtude, reside na vontade, e não no sentimento.
Assim, “não se trata necessariamente de um amor sentido, mas de um amor intensamente querido; e tanto mais querido, nas almas fervorosas, quanto menos sensível for”. A verdadeira prova da autenticidade da caridade é o fato de ela vir acompanhada de uma repulsa inteira ao pecado, pois diz Santo Agostinho: “Ficará demonstrado que amas o que é bom se vires em ti que odeias o que é mau”.
Não podemos esquecer, por fim, um fundamental desdobramento deste fruto do Espírito Santo, ensinado pelo próprio Cristo: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 39). No dizer de Santo Agostinho, “o amor ao próximo é como o princípio do amor a Deus”. E “não há degrau mais seguro para subir ao amor de Deus que a caridade do homem para com seus semelhantes.
Alegria
Corolário do amor a Deus e ao próximo é a alegria, “pois quem ama se alegra por estar unido ao amado. Ora, a caridade tem sempre presente a Deus, a quem ama, segundo o dizer da primeira Carta de João: ‘Quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus nele’ (I Jo 4, 16). Portanto, a alegria é consequência da caridade”.
Longe de se confundir com os gozos passageiros, provenientes de frivolidades ou de ações proibidas pela Lei de Deus, que logo se transformam em frustração, a alegria do Espírito Santo é toda sobrenatural e penetra até o fundo da alma. Por isso pôde São Paulo dizer: “Estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações” (II Cor 7, 4).