O mundo ocidental passou por profundas mudanças a partir da segunda metade do século XVIII. Por um lado, a revolução industrial provocou mudanças econômicas e sociais irreversíveis, com consequências muito significativas para a América Latina, que ingressou no comércio atlântico com um novo protagonismo.
Por outro lado, no campo político, o regime das liberdades civis e religiosas simbolizado pela “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” levou a um período de turbulência que muitos temiam. Parecia haver “uma relação direta entre o início de 1789 e a destruição dos valores tradicionais na ordem moral, social e religiosa” (AUBERT, 1977, p.44).
O mundo ocidental entrou na “era das revoluções”, segundo a expressão clássica de Jacques Godechot – que se estenderia por várias décadas. A revolução das colônias inglesas, a Revolução Francesa, a revolução da América espanhola e as revoluções liberais de 1830 e 1848 suscitaram diversas realidades políticas e sociais. Novos atores coletivos – movimentos ideológicos, partidos, exércitos, estados, repúblicas, nações – se tornariam os novos protagonistas da história. O liberalismo, a democracia e a cidadania entraram em jogo, tanto na Europa quanto na América.
Estes processos envolveram mudanças de ideias, nas crenças, nos imaginários, nos valores, nos comportamentos. Foi gerado, segundo François-Xavier Guerra, “um novo sistema de referências: a vitória do indivíduo, considerado como o valor supremo e critério de referência com o qual devem ser medidas as instituições e os comportamentos”. Guerra assinala que esta vitória do indivíduo teve consequências significativas no campo da sociabilidade.
A nova sociabilidade moderna foi caracterizada pela associação de indivíduos de origem diversa, que se reuniram para discutir em comum e tirar suas próprias conclusões. Salões, clubes, reuniões sociais e associações eram sociedades igualitárias, onde surgiu a “opinião pública moderna, produto da discussão pública e consenso dos seus membros” (GUERRA, 2009, p.40) .
Não se deve, porém, considerar que a modernidade surgiu contra a Igreja Católica. Por um lado, isso envolveria identificar, na íntegra, as origens da modernidade com alguns princípios do Iluminismo do século XVIII. E houve, certamente, iluministas católicos. Por outro lado, não pode ser ignorado, como salienta Christopher Clark, o caráter seletivo e ideológico, no século XIX, do uso dos termos “moderno” ou “antimoderno” (CLARK, 2003, p.46). Em suma, deve ser matizada a imagem antitética da Igreja e dos católicos que rejeitam em bloco a modernidade.