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Nossa Senhora de Nazaré

Em meados do século XI, o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, conseguiu expulsar os mouros de seu território, auxiliado por um grupo de valentes cavaleiros,  entre os quais se destacava

D. Fuas Roupinho, grande amigo de aventurosas caçadas.

Certa vez, galopava o jovem fidalgo em perseguição a uma corça numa região de altos penhascos que se debruçavam sobre o Atlântico, quando o animal no desespero da fuga, atirou-se ao mar. O local estava coberto por espessa neblina e o caçador somente percebeu o perigo, quando viu o precipício sob as patas do cavalo.

Instintivamente, lembrando-se de uma pequenina capela da Virgem Maria, que avistara em sua desabalada corrida atrás da corça, implorou o socorro da Mãe de Deus. No mesmo instante o cavalo estacou subitamente sobre o abismo e com tanta força, que as ferraduras de suas patas traseiras ficaram marcadas no rochedo.

Refeito do susto, D. Fuas Roupinho dirigiu-se ao oratório a fim de agradecer a Nossa Senhora por lhe ter salvado a vida. Ajoelhou-se aos pés da imagem e, tomando-as ás mãos, encontrou preso a ela um pergaminho. Com grande pasmo leu a história da efígie da Virgem Maria, que já era venerada em Nazaré nos primeiros tempos do cristianismo, e que consta, segundo antiga tradição, ter sido esculpida por São José na presença da Mãe de Deus e posteriormente encarnada* por São Lucas.

Dizia o documento que, quando os imperadores do Oriente, sucessores de Constantino, começaram a perseguir o culto das imagens, um monge grego do convento de Nazaré conseguiu tirar da capela uma estátua da Mãe Santíssima, fugindo com ela para a África. De lá a imagem foi levada à Espanha, onde permaneceu durante muito tempo num mosteiro próximo à cidade de Mérida, recebendo a veneração dos fiéis, devido a seus inúmeros milagres.

Quando os mouros invadiram a Espanha, o último rei godo D. Rodrigo, após a terrível derrota em Guadalete, foi obrigado a fugir e escondeu-se naquele convento. Ao retirar-se rumo ao oeste da Península Ibérica em companhia do frade Romano, levou consigo a referida imagem e algumas relíquias de santos, com medo de que elas fossem desrespeitadas pelos infiéis.

Ao chegarem no alto de um escarpado rochedo junto ao oceano, encontraram uma pequena gruta e ali improvisaram um altar e colocaram a efígie da Virgem Santíssima e as relíquias, mas tiveram o cuidado de deixar junto um pergaminho contando a história da milagrosa santa.

Lendo este relato, D. Fuas Roupinho mandou erguer naquele local um santuário que perpetuasse o culto de sua Protetora, a qual foi denominada Nossa Senhora de Nazaré, porque era proveniente daquela cidade da Palestina. Mais tarde, por ordem do príncipe D. Fernando, filho de D. João II, foi construída ali uma bela igreja, ricamente ornamentada pela família real.

Na baixada próxima ao templo, junto à praia, formou-se a cidade de Nazaré, aglomerado de pescadores e uma das povoações mais tradicionais e características da terra portuguesa.

A basílica da Senhora de Nazaré, situada no alto do penedo, é visível do mar a grande distância, por isso esta Santa tornou-se Padroeira dos Navegantes. Foram eles que propagaram o seu culto, batizando com o seu nome diversas naus que cruzaram o Atlântico e transportando-o para o Brasil, onde se localizou principalmente na Amazônia, no Estado do Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

Segundo a tradição, certo dia, em meados do ano de 1700, um caçador de cor parda chamado Plácido, quando procurava água em um igarapé, descobriu uma pequena imagem de Nossa Senhora, coberta de viçosa trepadeira, como se estivesse em um nicho natural. Piedoso e crente, o caçador levou a Santa para sua pobre choupana erguida à beira da estrada.

::Há dois dias do Círio de Nazaré 2014::

Ao ter notícia do achado, a vizinhança correu para admirar e venerar a imagem da Mãe de Deus, que foi identificada como sendo a réplica da Nossa Senhora de Nazaré venerada em Portugal, pois representava a Virgem Maria, sentada numa cadeira com o Menino Jesus ao colo.

A efígie encontrada por Plácido no meio da selva amazônica desapareceu de sua cabana alguns dias depois, indo localizar-se novamente no nicho natural onde havia sido descoberta. Chegando esse fato ao conhecimento das autoridades, a imagem foi recolhida à sede do governo, em Belém, de onde desapareceu, apesar da vigilância dos soldados.

Compreendendo que a Santíssima Virgem desejava ser venerada naquele local, o governo mandou construir um abrigo de palha em torno do nicho de pedras, a fim de protege-la contra as intempéries. Aos poucos, a notícia das graças alcançadas pelos devotos que recorriam à Senhora de Nazaré passou ao conhecimento público.

Tendo falecido Plácido, coube a Antônio Agostinho a missão de propagar o culto popular à milagrosa Santa, e ele, apesar das dificuldades financeiras de uma província onde não havia moeda circulante, conseguiu construir uma ermida.

Esta primitiva igreja, edificada de taipa e coberta de palha de ubim e ubuçu, foi posteriormente demolida e em seu lugar ergue-se hoje uma catedral em estilo neorromânico, de sabor tipicamente italiano, cuja construção se iniciou em 1909, no tempo áureo da borracha, e a província do Grão-Pará foi dedicada à Nossa Senhora de Nazaré.

No segundo domingo de Outubro a capital Paraense se movimenta para festejar a sua Padroeira. Nesse dia realiza-se o famoso Círio, a maior procissão do norte brasileiro, acompanhada de incalculável assistência de devotos provenientes dos Estados mais próximos e do interior do Pará. Essa cerimônia é famosa em todo o território nacional pela exibição de danças, pagamentos de promessas à velha moda portuguesa, mortalhas e penitências originais.

O Círio de Nazaré foi instituído pelo governador D. Francisco de Sousa Coutinho em 1790, com grande acompanhamento de povo e excepcional aparato de cavalaria, clarins, continências e filas de viaturas da sociedade paraense de então. A festa se ampliou com o carro dos milagres, luxuosa berlinda que expunha a imagem da Virgem aos fiéis e era toda ornamentada de numerosos ex-votos, enquanto um grande círio (vela) aceso acompanhava a procissão.

Apesar de a cidade de Belém ser o principal centro brasileiro do culto de Nossa Senhora de Nazaré, o primeiro templo da virgem originária da Palestina, no Brasil, parece ter sido o de Saquarema, no Estado do Rio. Contam as crônicas que a 8 de setembro de 1630 a noite fora tempestuosa. O oceano rugia, o temporal derrubava árvores e, como por milagre, as pequenas casas de pau a pique escapavam do furor da natureza.

De repente a chuva passou, o vento despareceu, o mar acalmou-se e os pescadores forma em busca de suas canoas. A imagem da virgem de Nazaré, que havia sido colocada numa tosca choupana, foi arrancada pela violência das águas e atirada nos rochedos, onde hoje se encontra a matriz. Recolocada na cabana, novamente depois de outra noite de tempestade, ela apareceu sobre a rocha, e de sua boca partia um sorriso, que parecia acalmar a população da aldeia.

Vendo naqueles acontecimentos a vontade divina, as autoridades civis e religiosas resolveram construir no alto do promontório uma capelinha e sobre o nicho do altar colocaram a imagem de Maria.

Minas Gerais também dedicou várias igrejas coloniais a esta invocação da Mãe Santíssima, salientando-se das cidades de Santa Rita Durão, Morro Vermelho e Cachoeira do Campo, nas quais pode-se admirar em antigas pinturas o milagre da Virgem Maria salvando a vida do valente guerreiro cristão D. Fuas Roupinho.

A matriz desta última é considerada uma jóia do primitivo barroco mineiro, devido ao seu rico trabalho de talha dourada, que impressiona o visitante, não só pela profusão de ornamentos, como pelo aspecto suntuoso de seus altares. Muito simples na parte exterior, o magnífico templo colonial expressa pela sua riqueza interior o carinho do povo Cachoeirense pela sua protetora, a Virgem de Nazaré.

Iconografia:

As esculturas geralmente representam a Nossa Senhora de Nazaré sentada (ás vezes de pé) segurando o Menino Deus em seu colo, do lado esquerdo. Ela veste uma túnica presa a cintura, adornada ao pescoço com correntes e colares. Sobre a cabeça tem um longo véu, que cai abrindo até os pés e usa uma coroa real, assim como seu Filho.

As pinturas das igrejas mineiras mostram o milagre de Nazaré. Nelas a Virgem Maria (de pé ou sentada) aponta para um rochedo, onde se vê o cavalo de D. Fuas Roupinho preso à terra pelas patas traseiras e o fidalgo pedindo socorro à Mãe de Deus, que aparece cercada de nuvens e anjos. Embaixo, o mar e a corça se precipitando nele.

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